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Edna Frigato

Um casamento inusitado
Tem gente que não se relaciona afetivamente porque acha os envolvimentos humanos complicados demais.
No entanto, não só casa, como permanece casada com aquela dor antiga, aquela que já fez todas as bodas de metais e pedras preciosas que tem na lista de comemoração de tempos de casados.
Passam se os anos, e a cumplicidade entre os cônjuges se torna cada dia mais sólida.
Com a chegada dos filhos resultantes dessa união: a angústia, insônia, depressão, ansiedade, os laços que unem o casal vão se tornando cada vez mais estreitos, ao passo que a casa vai ficando apertada demais para comportar todos eles.
Mesmo assim, a pessoa resignada abraça a sua sorte e com o divórcio fora de cogitação não faz outra coisa que não seja dar atenção a esse inusitado relacionamento.
Alimenta o diariamente, como se tivesse medo de perdê lo ou de ser abandonada por ele e não saber o que fazer com tanto espaço vazio.
Com tanta atenção e dedicação assim, claro que a dor se torna cada dia mais presente em sua vida e com devoção retribui o pácto de fidelidade que existe entre eles.
Ir embora Nem pensar!
De repente, a pessoa se descuida, olha em outra direção e do nada se apaixona por uma réstia de luz que atrevida entra por uma pequena fresta do medo.
Encantada se esquece de alimentar a dor, para de dar atenção a ela e só então percebe que aos poucos essa relação abusiva e conflituosa vai definhando.
Um belo dia, acorda e com certo espanto percebe que ela desapareceu.
Com uma leveza, até então, desconhecida a pessoa respira fundo, aliviada esboça um sorriso meio enferrujado e, enfim, percebe o quanto é bom ficar solteira.

Qual o sentido da vida
A ciência propõe duas explicações para essa dúvida metafísica.
A primeira, mais tradicional, é: o sentido (objetivo) da vida é se reproduzir, ou seja, ter filhos.
Ponto.
Isso vale tanto para nós como para o sabiá, o cordeiro patagônico ou o bicho da seda.
Pelo menos é o que diz a tese do biólogo britânico Richard Dawkins.
Segunda: O cérebro humano possui um mecanismo chamado sistema de recompensa.
São grupos de neurônios situados em certas regiões, como o septo – que fica bem no centro do cérebro.
Toda vez que fazemos algo física ou mentalmente agradável, qualquer coisa mesmo, esses neurônios causam a liberação de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer.
As demais áreas do cérebro são inundadas pela dopamina – inclusive aquelas que manejam o autocontrole e as emoções.
Você sente prazer.
E tem vontade de sentir de novo.
E de novo.
E de novo O sistema de recompensa tem uma influência gigantesca sobre nossas ações e decisões.
Sempre que você se sente bem, ou mal, é esse sistema que está fazendo isso acontecer.
E ele nem sempre nos guia no caminho de gerar descendentes – você deve conhecer gente que não tem filhos, nem quer ter, e está muito bem assim.
Porque existe uma segunda explicação para o sentido da vida.
Em vez de espalhar genes, o objetivo pode ser contentar o sistema de recompensa.
Traduzindo: ser feliz.
* Não consigo olhar para o ser humano como um marionete movido por pulsões meramente biológicas.
Sempre acho que somos mais que isso.
Que há algo na cartola no Universo para nos surpreender.