OLHAR
Eu não sei se mereço que incline os teus olhos,
eles ainda tão antropológicos, em minha direção:
eu, que sou todo pensamento, dúvida e tristeza,
nem tenho esperanças mais na tua observação!
Além da efemeridade, além dos mistérios do tempo,
minha alma habitará sonhos que não compreenderão:
e minha vida tão sofrida, e meu corpo tão enfadonho,
acabarão na tua dureza, e ao teu olhar se humilharão
Contudo, o meu amor, sem forças nem significado,
procurará noutras mil vidas a tua antiga bondade
E o tempo voltará numa branda lágrima de tristeza,
e a imaginação trará tantas auroras de saudade!
E por todos, e por ti e por mim, somente amargura,
as estrelas ir se ão apagando pequenas e claras.
O silêncio removerá a lágrima, e o vento e a lua:
só ficarão as tristonhas estrelas das tuas palavras.