Hoje já não sou o mesmo.
Sou um arremedo do que era ontem.
Sou tristeza, sou angustia, sou dor, sou lágrima, sou inferno, sou raiva, sou morto.
Hoje questiono o que somos se não meros animais a mercê de nossas fantasias a espera de um deus abstrato que nada faz para minorar essa dor.
Sou revolta, sou sumiço, sou espera do que nunca mais vai vir.
Sou olhar sumido na imensidão das dúvidas.
Sou olhar sumido em busca do que não conheço.
Sou a dor doida, a dor sentida,a dor sem trégua.
Sou o inanimado, o sem vida, o encerrado.
Quero entender, quero aceitar a fatalidade como normal.
Quero poder viver amanhã.
Quero imaginar sorrir novamente.
Quero acabar com isso.
Quero aceitar como mais um descuido.
Quero viver depois disso.
Nem todos amores que conheço servem para me deixar menos triste.
Nem todas as belezas que já vi me consolam.
Nem o sabor do meu melhor momento me serve.
Ser feliz é uma opção que não consigo vislumbrar.
Ser feliz hoje é de um egoismo sem igual.
Hoje é um dia para enaltecer a tristeza.
Um dia para sofrer e um dia para entender que a felicidade tem seu lado obscuro.
Que o egoismo tem seu lugar cativo em nossos delírios.
Hoje é dia de chorar.