Era filha da tempestade.
Arredia, intransigente, teimosa, austera, obstinada e cheia de caprichos.
Seu próprio pensamento, por vezes, a assustava.
Carregava seu mundo nas costas, e não admitia que fosse invadido, pois era também egoísta e não sabia (e nem queria) compartilhar seus amores.
Gostava da noite, de se deixar chover no âmago silêncio do escuro.
Mas não por via de regra.
Trovejava e relampeava, estremecia e se derramava a qualquer momento, e por qualquer motivo.
Sua chuva de sentimentos inundava suas relações, e por vezes transbordava sua laguna mente inconstante, arrastando suas barreiras estruturais e desolando seu coração desobediente.
Era ventania; profunda e uivante.
Era orvalho; chuvisco molhando a lenha cortada, borrisco fazendo brotar a semente plantada.
Era nuvem negra carregada (de emoções, de palavras, de fantasia, de amor) solitária no céu estrelado; era a casa do gigante irritado, a imensidão cinzenta dos dias nublados.
Mas ainda assim, conseguia serenar por vezes, em hipóteses (sempre) inesperadas, e na beleza de uma nova manhã, permitia o nascer da luz.
Era filha da tempestade, mas era preciso abrandar para que pudesse nascer o sol.
O calor.
O vapor.
E carregar se novamente.
Nem sempre era quando desejava, mas talvez fosse essa a sua jornada.
Sua sina predestinada.
O caminho certo a seguir.