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Patricia Antoniete

Meu amor saiu por aí e não voltou mais.
Perdeu se o meu amor.
Deve ter entrado numa tabacaria, livraria, lavanderia, tornearia, padaria, sabe se lá.
O fato é que meu amor perdeu se.
Nunca pensei que meu amor sairia a vagar, ficaria olhando uma vitrine, dobraria numa rua qualquer, entraria em um beco, cairia no chão e ficaria lá, preso entre o meio fio e a desilusão, olhando o movimento dos carros, fixado nos passos das pessoas, no vai e vem dos dias, apático, apoplético.
Meu amor perdeu se.
Não sei se um belo dia decidiu fugir de livre e espontânea consciência, ou se foi uma idéia que lhe surgiu de repente.
Nunca foi distraído, o meu amor.
Nunca deu se a arroubos de insanidade nem a inconsciências transitórias.
Penso que talvez esteja sofrendo de amnésia ou Alzheimer, com sorte quem sabe apenas um surto passageiro de estafa.
Sumiu faz algum tempo – tempo demais para este meu coração danado de ansioso – e faz me uma enormíssima falta.
Já não há capuccinos que cheirem a canela, não há livros que me façam chorar.
Abandonaram me as músicas que eu sei de cor e que são obrigatórias por lei serem cantadas com as janelas do carro bem abertas, ou para que os vizinhos ouçam e riam.
Enegreceu qualquer coisa que deveria estar por perto e agora não se acha, desertaram os perfumes da terra, da chuva, das manhãs de sono, de cabelos molhados, de café com pão, dos inícios das tardes quentes que contrariam as frentes frias.
Meu amor saiu e não voltou mais e não há o que possa suprir sua falta, não há o que possa ocupar seu lugar.
Sem meu amor eu não sou eu, sou o forro roto do meu casaco, a pedra fria da minha casa, sou um corpo deambulante e oco que dormita dia e noite.
Se alguém o encontrar, é favor devolvê lo com a máxima urgência, avisar os bancos de sangue, a polícia militar, chamar a ambulância, convocar a assembléia de condomínio, tocar trombetas, marcar cirurgia, decretar feriado, publicar na imprensa de grande circulação, gritar por mim.
Por favor.

A despeito do que poderiam os desavisados pensarem, amor e cansaço não são incompatíveis.
As pessoas cansam de amar, cansam mesmo.
Cansam de amar no vácuo, no vazio, a contra gosto, na marra, na mão única, com esforço, no amor à camiseta, cansam de amar quando amar é uma luta inglória, é uma sede saciada a conta gotas.
As pessoas cansam de nos amar apesar de nos amarem muito, as pessoas cansam de nos amar quando o amor é à custa de teimosias, defeitos, desaforos, desatenções, estupidezes, falhas de caráter, falta de tempo, descuidos, TPM, stress, chatice, drama, descaso, reclamações, egoísmo, omissões, negligências, filhadaputices, prioridades outras, grosserias, inaptidões, incapacidades, má administração, indiferença, cronograma insano, sacanagens, ingratidões, desídia, pouco caso, desconsideração, intolerância.
O amor suporta muito e não espera um escambo de atenção e sentimento, mas o amor tem ida e vinda, tem mão dupla, tem uma razão outra que não é puro altruísmo e desapego.
Não pense que quanto mais o outro suporta, quanto mais o outro luta, maior é o seu amor.
Isso é uma sabotagem imbecil de quem não se sente merecedor ou capaz de retribuir.
Pai dedicado cansa.
Filho devoto cansa.
Irmão parceiro cansa.
Amigo de fé cansa.
Até o grande amor cansa.
As pessoas cansam e desamam e se perdem e vão embora e não voltam mais.
Amor não é para sempre, não, não se engane.
O que é para sempre é saudade.
E a gente fica triste e fica infeliz e fica miserável e fica com a vida besta e vazia depois que quem nos ama desiste, a gente fica com a vida oca, fica tudo preto e branco e a gente acha que tudo bem, que vai ficar tudo bem e a gente se engana que supera, paciência, não era pra ser, não era forte o suficiente, não era verdadeiro o suficiente, mas não fica tudo bem, não supera coisa nenhuma, não era pra ser uma ova.
Nananinanão, senhor.
Porque a gente também cansa da tristeza e do vazio, a gente também cansa da solidão e da miséria, a gente também cansa da infelicidade, mais cedo ou mais tarde, e aí ó, babaus, já cansaram de nós.
Portanto, não ponha o amor à prova.
Não se proponha a testar até onde ele suporta.
Amor não é gincana, não é rali, não é prova de resistência.
Amor é pra amar e cuidar muito bem.
Já chega o fato de que tem todo o resto do mundo para criar problema, para dar trabalho, para dificultar as coisas.
Lute por e não contra.
Lute muito, lute bastante.
Mereça o seu amor enquanto ele ainda é seu e ainda está aqui.
E que 2008 nos encontre de frente e braços abertos, cheios de coragem para amar e deixar se ser amado.

Meus grandes momentos de felicidade não coincidem com grandes
momentos.
Não se tratam de rituais de passagem, de grandes realizações, não têm holofotes, arranjos de flores, entradas triunfais, rufar de tambores.
Poucos deles ficaram na memória associados a uma data e são muito mais sensações, frases soltas, pequenos gestos do que propriamente grandes momentos.
Foram, na verdade, ordinariedades simples capazes de parar o tempo e me mostrar a perfeição do instante, de revelar milagrosamente, como quem tira um coelho da cartola, a felicidade irretocável que eu estava vivendo.
Gérberas enroladas em papel pardo numa manhã de sábado.
Café com empada e jornal na Rua da República.
Banheira e sopa de abóbora temperada de lexotan.
Saguão de aeroporto esperando amigos que conversavam fumando.
A mão que brinca por debaixo das cobertas com a minha tornozeleira.
Cadeiras lado a lado no salão de beleza com a irmã que vai casar.
A subida da serra num carro 1.0 com Facelo de co piloto e DJ.
Amigos dividindo pão de queijo e café pra se despedir.
Um quarto de hotel num fim de tarde fúcsia com os Morelembaum de trilha.
A boca cheia de spaguetti.
Calor, refrigerante, poeira e 8.000km num carro sem ar condicionado.
Nininha fritando bolo de batata.
Ser embalada aos pulinhos.
Um anel escondido nos lençóis.
"Ticcia, Ticcia, ó, não tê lua, tê estelinhas".
O Frescão na chegada ao Rio.
Roupa manchada de laranja 60 percebes depois.
Chope do Liliput.
O elogio de um cara genial.
A escada rolante do desembarque.
Sentir me em casa.