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tadeumemoria

Uma coruja pousa numa amendoeira numa sexta feira bonita, um beija flor corteja as rosas do jardim, as borboletas chovem abundantes além do quadrado da minha janela; em que estação estamos se só nos delimitam duas estações; inverno e verão.
Então o que será de primaveras e de outonos, o que será de nós poetas nordestinos divididos ao meio em nossas emoções.
A natureza provavelmente se rebela e o que percebemos é essa moldura incrivelmente primaveril propícia ao amor.
Percebo que depois de invernos muitas mulheres engravidam ou é uma falsa impressão; esse negócio de safra, entre seres humanos não funciona assim; é indiscreto imaginar o que fazem os casais nas noites frias e chuvosas, e se for o que imagino, não deixa de acontecer uma espécie de safra; então me lamento:" por que deixei lenira partir." Ela andava amuada, a cara sempre fechada, resmungona e murmurando sempre alguma insatisfação; numa tarde de quinta feira, dia de finados, pegou uma trouxa e disse que visitaria os país no cemitério, sabia que era uma despedida, que andava insatisfeita com a rotina e a monotonia do cotidiano, mas por pirraça, fiquei olhando seu perfil frágil, sua barriga proeminente tornando mais franzina sua silhueta num vestido de chambre estampado, perder se na sinuosidade da estrada carroçal em contraste com a caatinga verdejante.
Deveria estar tudo bem silencioso, mas da minha mente vem um flash com tilintares de copos, bateres de panelas e o ruído de seus passos pela cozinha, ajeitando e limpando sempre alguma coisa com a dedicação que lhe é peculiar; afora isso, na realidade tudo é tão silente que me perturbo com o sacolejar das palhas do coqueiro pelo vento e o esvoejar d'algum inseto na penumbra.
Então às tardes, ponho me à janela a observar a estrada, tentando contemplar sua volta, até que tudo vai desfocando, desfocando com o final da tarde, e os vultos que chegam parecem fantasmas dos guerreiros que partiram pela manhã.
Aquele mar de rosas que imaginei com sua ausência não existe, agora percebo certo encanto num canto qualquer, onde acontecia um riso raro e tímido, um olhar mais profundo, um charme qualquer; se tudo não era um mar de rosas, percebo agora que nada nada assim no nada ficou esse vazio, esse ranço da sua ausência, uma dorzinha; e todos os detalhes dentro dos etcéteras que envolvem uma união entre duas pessoas; isso é ser sozinho, não é solidão.
A coruja tem a sua amendoeira, o beija flor tem o seu jardim solidão é não ter onde pousar.
Amanhã pego a bike, um cravo, meia dúzia de tangerinas, um cacho de uvas Lenira adora uvas

TETY, um amigo fiel.
Poucos, muito poucos, pouquíssimos acreditaram quando falei de Tety, quando disse que nas últimas sextas feiras de anos bissextos, depois de meia noite em noites de quarto crescentes ele falava; muitos riram, mas também não me esforcei pra convencer ninguém, era algo que só a família conseguia usufruir, se é que podemos falar assim.
Era profético, era filosófico, as vezes hilário, mas como falar disso pra alguém sem passar pelo ridículo de ser taxado de mentiroso Tety me falou certa vez, que em outra vida já tinha sido ser humano, disse que foi sua experiência mais cruel de vida; mencionou que foi muito difícil ser humano, que fora enterrado vivo pela sua companheira, mas ao reencarnar em forma de gato que fora adotado pela sua ex companheira pode testemunhar todo seu sofrimento nas mãos do amante.
Disse que gostou de ser gato curtia correr pelos telhados em noites de lua cheias flertando com as gatas falou da existência de um ser superior, mencionou um apocalipse e um provável choque entre a lua e a terra.
Há um mês procuramos Tety desesperadamente, cheguei a conjecturar que a carrocinha pudesse ter capturado ele, mas se assim fosse outros vira latas que vivem aqui na rua também teriam sido capturados; coloquei anúncios nas redes sociais, mas nenhuma notícia.
Ontem recebi uma carta de alguém que colocou no remetente: DI STEFFANO MAXMILLIANO JONAS FREIRE DE ALBUQUERQUE BARROS DE ALCANTARA, li e reli; e o seu teor era esse: “meus queridos, muitas saudades; exatamente um mês quatro dias e vinte e duas horas de saudades de todos sem exceção.
Tive que me afastar,pois como vocês perceberam fiquei velho e o que se avizinha a velhice é doenças morte e muito trabalho aos que cuidam da gente.
Quero que vocês guardem na lembrança aquele cachorro jovem e brincalhão que sempre foi fiel a todos.
Obrigado por toda a dedicação e carinho de vocês.
Daquele que sempre foi de corpo e alma de vocês; Tety.