correria para enfrentar os novos dias sem sua companhia, eu descobri que nada havia mudado dentro de mim.
Eu estava organizando minhas coisas quando me deparei com algo seu no meio delas.
Veio me sua fisionomia vestida naquela camisa que estava escondida debaixo das roupas que eu pretendia me desfazer.
Lembrei das nossas tardes em família, daquela pastelaria na rua da igreja, daquela chuva no meio do caminho de volta para casa, de você ganhando uma camisa do meu pai.
Lembrei da gente rindo da situação, da sua camisa molhada nas minhas mãos, eu não tive coragem de a estender lá fora e decidi a deixar secando no meu quarto.
Minha mãe se divertia e brincava comigo dizendo que eu ia vestir meu travesseiro com a sua camisa e ficar abraçando o você que eu criei.
Foi então que eu escondi a sua camisa com vergonha das brincadeiras e da minha falta de ideia de como usar sua camisa sem causar mais constrangimento.
Tudo o que vivemos me acometeu nesse flash de memória.
Para completar, sua camisa tinha o seu cheiro guardado, aquele da chuva.
Não me passava pela cabeça que nos separariamos pouco tempo depois por ventura de uma fatalidade que me enlutaria para sempre.
Todo mundo espera que essa mulher que me tornei volte a dividir o coração com um novo amor e não compreendem minha dificuldade.
São sempre as mesmas perguntas e nunca sei o que dizer a eles.
E sempre que acredito que vai acontecer algo novo, todos me lembram você, no jeito de se expressar, no humor e na espiritualidade.
Mas, não é a mesma coisa, eles costumam errar comigo de um jeito que você jamais o fez e acabo fugindo, eu sempre volto a me lembrar de como eu era antes de você ir embora e não consigo mais confiar no amor.
É por isso que a sua camisa continua comigo, para manter o melhor de mim que foi ter você na minha vida, não pretendo deixar isso de lado, você ainda é a força que me faz parecer tão pronta para continuar lutando.