INABALÁVEL
Ela tinha histórias decoradas.
“A menina da ponte” e o “pintinho cheio de amigos” são exemplos.
Ela ajoelhava e olhava em meus olhos para falar, em um tempo em que Super Nanny nem sonhava em ensinar esta tática.
E tinha o mais doce jeito de repreender.
Ela não precisa perguntar para saber que eu só tomava o Nescau, gelado.
Sabia o aniversário da minha melhor amiga e me ensinou o “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador ” quando eu ainda nem sabia o que significava direito cada palavra.
Foi ela quem leu meu livro preferido da infância pela primeira vez.
E também quem o releu incansavelmente.
Ela que se dividiu em duas para cozinhar comigo no colo diversas vezes.
Quem me penteou para a escola e tentou me ensinar que “meninas boas casam se com bons meninos”
Hoje, ela não sabe que essa lição eu não aprendi como deveria
Não sabe que, todos os dias, antes de dormir, eu me lembro daquela
oração
Não sabe que nunca mais tomei um Nescau na temperatura ideal
Nunca mais ouvi histórias inventadas com tanta magia
Aos poucos, mudei de nome Ficou difícil acertar!
Minha avó, aquela de dezenas de atividades, hoje mora num mundo que ninguém mais participa.
Ninguém vê, ninguém entra, poucos se importam!
Minha avó, já não sabe que é minha avó.
Mas eu vou sempre saber que ela foi, e é, a melhor que já existiu!