O Senhor Debaixo
No metrô de SP
Lá vai o senhor
E sua bagagem.
Às 6 da tarde
Com um envelope na mão,
Desce ele desse trem.
O senhor debaixo da neblina,
Acende o abajur no parque infantil,
Tornando visiveis
Os fantasmas que o rodeiam.
Envolto na nevola,
Um sussurro se faz ouvir:
"O pendulo da morte,
É a seta apontada pro peito do homem
Que vaga sem definir seu destino."
À caminho da catedral,
Avista o tempo transbordando
No peso de megafones,
O grito de desespero
Das almas que não partiram.
Exala do perfume funebre
E corre para a catedral.
Esta se encontra a meia luz vermelha
E o Cristo crucificado
No centro do altar
Chorando pelas almas perdidas.
Vermes circulam as velas
Que adornam o ambiente sagrado
E o Cristo desapontado
Com os homens,
Se retira do templo.
O senhor debaixo
Da sagrada escritura,
Resgata o bilhete do Cristo:
"A vós vim com o amor
E tudo que presenciei,
Foi a repulsa as minhas palavras.
Portanto, Aviso te
O amor não habita
Em corações fechados."
Ouve se o som bizarro
Da ambulancia a circular.
Sob o comando do palhaço
A gargalhar dos homens,
Incapazes apenas de praticar
As palavras do seu Cristo.
Ao abrir da porta traseira,
O paciente na verdade
É o próprio Cristo.
Não com marcas da salvação,
E sim feridas no peito
Fruto do abandono ao seu semelhante,
Jogando pelo ralo,
Toda a pregação .
Então o senhor debaixo
Do misterio que o cercava,
Apenas abriu sua mala
E levou o tal bilhete.
As pistas agora se encontravam
Como mais uma lembrança
Do descaso.
O Cristo se foi, mas o homem,
Ah o homem
Nem sabe o que faz.