No começo, acreditamos avançar para a luz; depois, fatigados por uma marcha sem fim, deixamo nos afundar: a terra, cada vez menos firme, não nos suporta mais: abre se.
Em vão perseguiríamos um fim ensolarado, as trevas se dilatam ao redor e dentro de nós.
Nenhuma luz para iluminar nos em nossa submersão: o abismo nos chama e nós o escutamos.
Acima ainda permanece tudo o que queríamos ser, tudo o que não teve o poder de elevar nos mais alto.
E, outrora apaixonados pelos cumes, depois decepcionados por eles, acabamos por venerar nossa queda, apressamo nos a cumpri la, instrumentos de uma execução estranha, fascinados pela ilusão de tocar os confins das trevas, as fronteiras de nosso destino.
Uma vez o medo do vazio transformado em volúpia, que sorte evoluir no lado oposto do sol! Infinito às avessas, êxtase ante as rachaduras do ser e aspiração de uma auréola negra, o Vazio é um sonho invertido no qual nos dissipamos.