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Hermes Fernandes

Parábola do Sol e da Lua
Num belo crepúsculo, o sol viu ao longe a lua, e mesmo distante, tentou abordá la.
Olá, lua! Você me parece tão triste.
Acho que já lhe vi mais radiante um dia.
É que estou naquela fase em que só aparece uma parte de mim.
Estou minguante.
Você me conheceu quando estava crescente.
Precisava ter me visto em todo o meu esplendor, quando me tornei cheia e plena.
Acho que posso lhe ajudar.
Como poderia Você é o sol! Olhe para si.
Tão cheio de vida.
Radiante.
Sem jamais minguar.
Deixe me oferecer minha companhia – suplicou o sol.
Eu adoraria.
Mas já tenho companhia.
Estou cercada de estrelas.
Mas elas parecem tão distantes, indiferentes.
Deixe me oferecer lhe um pouco da minha alegria.
Se você vier, eu as perderei.
Apesar de estarem tão distantes, foram elas que me ofereceram companhia por uma longa e fria noite.
Não seria justo que eu as abandonasse agora.
Então, deixe me acompanhá la por uma única noite.
Quero encher sua noite de luz.
Oferecer lhe meus raios.
Iluminar toda a sua superfície.
Sinto me tentada a aceitar sua proposta.
Só não posso garantir que serei sua companheira para sempre.
Combinado.
Sairei ao seu encontro e iluminarei a sua vida.
Você não precisa abrir mão de nem uma estrela sequer, nem mesmo de cometas e estrelas cadentes.
O sol, então, deixou o céu matutino e embrenhou se pelo céu noturno, provocando uma espécie de eclipse ao inverso.
A ordem natural foi subvertida.
Em vez de a lua invadir o dia, e assim, ofuscar o brilho do sol, foi o sol que invadiu a noite e praticamente incendiou a lua.
Nunca se viu a lua brilhando tanto.
Por uma noite, ela experimentou todo o esplendor do astro rei.
Tudo teria sido perfeito caso não houvesse observado que a chegada inusitada do sol fez desaparecer de uma vez todas as estrelas.
A lua, então, experimentou uma sensação jamais sentida.
Um misto de felicidade e tristeza, de euforia e melancolia.
Se fosse possível, desfrutaria da companhia do sol e das estrelas ao mesmo tempo.
Mas isso seria inalcançável.
O brilho do sol era tão grande, mas tão grande, que não sobrava espaço para nenhum outro astro.
A lua não teve alternativa, senão abrir mão daquele sonho.
Mesmo sabendo da saudade que a consumiria, preferiu manter se leal às estrelas que por tanto tempo ofereceu lhe companhia sem cobrar lhe nada.