Estávamos eu e minha sobrinha, Ana Liz, no quintal quando ela viu a chuva cair pela primeira vez.
Tinha apenas três meses de idade.
O olhar atento sentindo as gotas cair no chão, nas plantas, ao seu redor.
Tamanha calmaria, leveza, sensibilidade.
Ela foi crescendo, e nos dias de chuva aprendendo a tocar na àgua que caia sobre as suas pequenas mãos.
O olhar fixo parece que está contando gota por gota.
Além de enxergar a chuva, ela sente.
Além de sentir ela transborda, e me ensina a reparar a beleza das gotas caindo sobre nós, sobre o mundo.
Ana Liz desde pequena aprendeu a gostar da chuva, talvez ela gosta de ser regada como as flores.
A cada chuva que cai, Ana Liz floresce, cresce, cria raízes.
Ela me ensina sobre as etapas da vida, o tempo, o reeinventar.
Hoje, quinta feira, da janela do ônibus vejo a chuva que cai em Fortaleza, penso na Ana Liz, recordo do seu olhar atento e sigo.
Resisto aos maus tempos, a desesperança, o medo.
Assim como a Ana Liz hoje deixarei a chuva me regar para que possa brotar flores de resistência no meu peito.
R(e)existo.
Vamos juntas pequena, estamos juntas.