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Fabíola Simões

Por que é tão difícil sairmos de nossas zonas de conforto, que podem nem ser tão confortáveis assim, mesmo sob o sol quente rachando a pele, mesmo sabendo que logo ali à frente há promessa de mais alegria e menos frio
Porque ser livre é mérito dos que têm coragem.
Uma conquista dos que rompem o vínculo com a culpa e experimentam suas próprias leis, já que a liberdade é almejada mas também complicada.
Difícil como ter o oceano à frente e não saber o que fazer com ele.
Acreditar no prazer que existe em estar submerso e ter medo de água fria.
Enxergar a beleza, admirar a coragem dos que se arriscam e preferir ficar na areia observando com brandura e pouca bravura.
Esquecemos que somos livres.
Preferimos culpar a água gelada, o vento que chega sem avisar, a sombra que surge do nada.
Esquecemos que dentro de nós tem sempre um sol que aquece, uma água morninha convidando pra um mergulho, uma noite iluminada.
Optamos em ser apenas observadores, sentados em cangas esperando pela vida que acontece de verdade fora de nós.
Enquanto isso, sempre haverão meninos de pele morena rindo ao sabor do mar, nos mostrando que perdemos tempo com previsões, limites, juízos e regras inúteis enquanto a vida escapava gentilmente como areia descendo pelos dedos.
Porém, liberdade não é para amadores, para quem não se conhece.
Ao contrário, é coisa de gente séria, que se arrisca com responsabilidade e tem coragem de avançar e também recuar, de quem percebe a agitação do mar e não vacila com a própria vida.
Pois ser livre não tem a ver com se atirar descontroladamente e sim se conhecer, aprofundar no mistério que habita e entender de si mesmo sem julgar, não apenas surfando na superfície da vida mas sim procurando
respostas, encontros, disposições

Acho que foi em 1993.
Numa entrevista _ histórica_ pra MTV, Renato Russo disse a Zeca Camargo que achava lealdade mais importante que fidelidade.
Eu era menina, mas lembro que gravei a entrevista numa fita VHS e revi inúmeras vezes, me intrigando sempre nessa parte.
Eu entendia pouco acerca do amor, dos afetos, da durabilidade das relações.
Mas Renato Russo me influenciava _ numa época em que meu pensamento ainda estava sendo moldado_ e eu tentava, imaturamente, entender aquela declaração.
Isso foi há vinte anos.
De lá pra cá, relações se construíram e desconstruíram na minha frente.
E vivendo minha própria experiência, finalmente consigo entender, e de certa forma concordar, com Renato Russo.
A fidelidade é permeada por regras, obrigações, compromisso.
É conexão com fio, em que te dou uma ponta e fico com a outra.
Assim, ficamos ligados mas temos que manter a vigília para o fio não escapar e nosso aparelho não desligar.
Já a lealdade_ permeada pelo vínculo, vontade e emoção_ é o pacto que se firma não por valores morais, e sim emocionais.
É conexão "wi fi: fidelidade sem fio", que faz com que eu permaneça unida a você independente da existência de condutores ou contratos.
Permaneço em pleno funcionamento por convicções permanentes e duradouras, invisíveis aos olhos.
Amor nenhum se atualiza sozinho.
O tempo passa, a gente muda, o amor modifica.
E nessa evolução toda, a única tecla capaz de atualizar e permitir a duração do amor, é a tecla da lealdade.
É ela que conta ao outro que estou mudando, que não gosto mais daquele apelido, ou que aquela mania de encostar os pés gelados em mim embaixo do cobertor ficou chata.
É ela que diz que eu gosto tanto do seu cabelo jogado na testa, por que é que não deixa sempre assim Ou que traduz que tenho medo de te perder, mas ainda assim preciso lhe contar que na época da faculdade usei drogas, pratiquei magia ou fiz um aborto.
É ela que permite que coisas ruins ou não tão bonitas encontrem um refúgio, um lugar seguro onde possam descansar em paz.
É ela que faz o amor se atualizar e durar
Lealdade é não precisar solicitar conexão.
É conectar se sem demora, reservas ou desconfianças.
É compartilhar a senha da própria vida, com tudo de bom e ruim que lhe coube até aqui.
Leal é quem conhece as fraquezas, revezes, tombos e dificuldades do outro e não usa isso como álibi na hora da desavença; ao contrário, suporta sua imperfeição e o ajuda a se levantar.
Leal é quem lhe defende na sua ausência.
É quem prepara seu terreno, se preocupa com sua dor, antecipa a cura;
Leal é aquele que é fiel por opção, atento ao amor que possui, zeloso com o próprio coração;
É quem não omite o próprio descontentamento, mas aponta o que pode ser feito pra não se perder
Então sim, eu concordo com Renato Russo e acho que deslealdade separa mais que infidelidade.
Pois não adianta não trair por fora, se traio o amor por dentro.
Se tenho medo de arriscar e polpo meu afeto de se conhecer por inteiro; se não tolero meu caos e vivo uma mentira imaculada.
Se não absolvo minha história nem perdoo meu enredo, desejando fazer dele uma fábula fantasiosa aos olhos de quem amo.
Se contrario minha vontade e disposição e omito minhas intolerâncias pra não ferir _ me afastando silenciosa e gradativamente até a ruptura.
Se me apresento por partes_ as melhores ficam aparentes, as nem tanto eu omito_ e não permito ser conhecido.
Finalmente, se não confio a ponto de compartilhar a poltrona do carona_ ao meu lado_ reservando apenas o banco de trás ( e olhe lá! ) à minha companhia nessa viagem