"Cada vez que eu passo por um dia aqui, ali, catando, olhando, pensando, eu vou adquirindo um novo conceito das coisas que me cercam.
Acho que parei num lugar; parece que meus conceitos próprios chegaram.
Dúvidas de mim já não tenho.
Sei dos caminhos e de como eles são.
O dia a dia fez de mim um homem mais calmo, mais sereno, menos desvairado.
Nós (você, eu, Sérgio, Walter) somos velhos e estamos caminhando para nascer, e enquanto não nascemos "levamos nosso cão raivoso" para passear.
Amizades mais calmas, mais escolhidas (achei boa companhia), bom papo, cervejas em botecos longe da fumaça e da poluição, pois esta cidade não pára!! Eu preciso dar um descanso à máquina.
Já não há escapatória para a nossa civilização.
Somos prisioneiros da vida e temos que suportá la até que o último viaduto nos invada pela boca adentro e viaje eternamente em nossos corpos.
Há dias calmos aqui também.
Manhãs que passam manhosas entre os móveis e automóveis e a gente vai percebendo, aos poucos, que o capim do parque ainda é verde.
A gente enche os pulmões, pega um tema e sai assoviando.
Só ando de ônibus.
Cheguei à conclusão que eu me aborreço 99% menos.
Ônibus não é tão mau quanto eu pintava.
Em cada carta eu lhe falo um pouco sobre esse movimento "Cavernismo", que é um movimento de tendências universalistas."
(Carta inacabada ao irmão Plínio Seixas)
1970