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Maria Cristina Marques

QUEM SÃO TEUS AMIGOS
Lembro de um nordestino arretado me dizendo certa vez depois de uns goró “Você nunca viu a espécie na vida, conversa um dia e na hora do almoço já te cumprimenta como amigo! ” e continuava na gostosicidade que um bom vinho ou cerva gelada permite “Estou morando há um mês com vocês e não são meus amigos”!
É tão bonito ouvir aquela música que o Roberto e Erasmo escreveram para o Caetano, quando estava no asilo político “Debaixo dos caracóis dos Teus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante! ”.
A capacidade de saber o que o outro está sentido, de abraçar calorosamente quando as palavras não são oportunas, de simplesmente olhar e já saber que afago deve dar.
Aí percebo a razão daquele caboclo do norte: não dá para saber nada disso com um mês e muito menos com um dia de conversa.
É natural das pessoas a desconfiança, primeiro se sente do outro a SINTONIA e depois se ENTREGA, conversa, brinca, zoa, recebe, doa e compartilha.
A amizade é uma espécie de amor que dá certo.
É mostrar ao outro a ternura de um lar que se escolhe.
Amigos são para toda vida e exige cuidado zelo por isso não são muitos.
Os meus, conto nos dedos e celebro diariamente a eternidade de cada momento vivido, das histórias guardadas, das surpresas feitas, das brigas necessárias, da convivência que te fez melhor, que te abriu a mente para uma ignorância latente que não havia percebido sozinho
Um amigo edifica o outro.
Exige dedicação – tempo para se construir confiança, respeito e LEALDADE!
É como ter uma obra de arte inacabada e que sempre pode ser melhor.
Que mesmo enxergando um monte de imperfeições não se deixa de valorizá la, ainda que se extravie no tempo ou na distância, por que basta um novo encontro, uma nova conversa, uma nova taberna ou um novo abraço pra se recordar que “Você meu Amigo de fé, meu IRMÃO, camarada.
Amigo de TANTOS CAMINHOS, de TANTAS JORDADAS*”, porque na vida dos teus amigos sempre “Janelas e portas vão se abrir (SORRINDO) para ver você chegar! **”
*(Roberto e Erasmo)

Aceito, em nome de Jesus!
Não sei se é só comigo, mas tenho a impressão que minha vida se repete, ou situações semelhantes voltam a acontecer, mudando somente a situação de status: ora paciente, ora operante.
Numa ocasião, esperando a minha vez para pegar carona, sentada no meio fio, fui pega de medo e surpresa.
O colega da vez bate o dedão para um sedam modelo Fusion e o piloto, mesmo guiando a máquina sozinho, ignorou o pedido.
Doze horas, um calor irritante de setembro, com uma sensação térmica acima dos 40 Celsius.
Acredito, numa ação impensada de ira, o colega fez o velho sinal para o condutor de “vai tomar no ”, o carro já estava a mais de 100 m, mas foi o suficiente para a freada brusca e retorno imediato.
Num primeiro momento, fiquei imóvel, sentada e o máximo que imaginei foi: Elvis está morto e nós somos os da vez.
Achei que o cidadão iria nos atropelar pela arrancada que iniciou em nossa direção.
Não conseguia me levantar: pensava em correr, deixar o colega ser atropelado sozinho, afinal não tinha sido eu a acenar obscenamente, só estava esperando a vez, como todo agricolino estudante já fez.
Para surpresa, o carro é freado em cima da gente.
Abaixa os vidros e diz “Entrem aí”.
Ouvi o colega gritando meu nome e um “vai ficar aí é ”.
Entrei.
Percebi que os bancos ainda estavam todos encapados com o plástico da fábrica.
“Desculpas” disse o motorista.
“Sabe pensei comigo, não vou deixar esses moleques sujarem meu carro, outro pode dar carona a eles.
Você me fez sentir o calor que tava sentido neste sol com sua atitude, percebi que estava sendo egoísta.
Desculpas mesmo”.
Tereza de Calcutá, nos ensina que a diferença entre o amor e a bondade está na atitude.
A pessoa boa não retribui o mal; e quem ama pratica o bem.
Meu colega retribuiu o mal e o motorista anônimo teve a chance de praticar o bem
Hoje na caminhada noturna diária, passei por uma mãe com seu filho.
Num primeiro momento, achei que eles estavam colocando a sacola do lixo.
Fiquei com vergonha de olhar, estava na frente de um hotel “chique” da cidade, podia ter mais gente observando, pensei.
Não aguentei.
Voltei os olhos e o movimento e percebi que estavam separando o que podia ser aproveitado, afinal no depósito de lixo de um hotel, logicamente, deve ter muita coisa útil.
O menino pálido e magrelo olhou me singelamente.
Pensei no que tinha visto nos últimos dias na mídia.
“Não apoie o Criança Esperança, doe para a APAE de sua cidade! ”.
Tem uma cultura nojenta neste País, que incentiva a protestar contra o que é bom.
NÃO TEM CARIDADE MELHOR OU PIOR.
A Pastoral da Criança não é melhor que a APAE, que também não é melhor ou pior que qualquer outro programa ou entidade ou pessoa que doe, ajude quem está vulnerável.