ELE E EU
Ele era copo cheio.
Eu, o último gole.
Ele é pé de moleque.
Eu, maria mole.
Ele era sono pesado.
Eu, pura insônia.
Ele é amarílis.
Eu, uma begônia.
Ele era exposição.
Eu, arte de rua.
Ele é prato gourmet.
Eu, comida crua.
Ele era até logo.
Eu, até amanhã.
Ele é jaqueta de couro.
Eu, blusa de lã.
Ele era cheio de ensinar.
Eu, de aprender.
Ele é Gregório de Matos,
Eu, Duvivier.
Eu era tarde fria.
Ele, manhã de sol.
Eu sou fá sustenido.
Ele, um ré bemol.
Eu era a longo prazo.
Ele, o instante.
Eu sou o preto básico.
Ele, o cintilante.
Eu era início de cena.
Ele a parte final.
Eu sou fã de Joy Division.
Ele, de Simonal.
Eu era mudar pra Argentina.
Ele, comprar casa no rio.
Eu sou viajar pelo mundo.
Ele, pelo Brasil.
Eu era acento agudo.
Ele, um u com trema.
Sim, os opostos se atraem.
Inclusive nesse poema.