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Martha Medeiros

Interrompendo as Buscas
Assistindo ao ótimo 'Closer Perto demais', me veio à lembrança um poema chamado "Salvação", de Nei Duelos, que tem um verso bonito que diz: "Nenhuma pessoa é lugar de repouso".
Volta e meia esse verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é.
Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida.
É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento.
Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso.
Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste.
Seco.
Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade nada foi feito pra durar.
Quem não estiver feliz, é só fazer a mala, sair e bater a porta.
Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes.
Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca.
Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões.
Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, consiga corresponder a 100% de nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais.
Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida.
Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência.
Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada.
Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco,nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um", também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duelos e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromperas buscas.
Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade.
Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, motivos, desejos.
Economiza se muito em palavras, os gestos falam por si.
Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso
Longas relações conseguem atravessar a fronteira doestranhamento, um vira pátria do outro.
Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções.
Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento.
Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso se chama trégua.
Uma relação calma entre duas pessoas que,sem se preocuparem em ser modernas ou eternas, fizeram uma daoutra seu lugar de repouso.
Preguiça de voltar à ativa Muitas vezes, é.
Mas também, vá saber, pode ser amor.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.