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Gustavo Lacombe

Às vezes, eu penso que uma música diz tudo que eu queria dizer pra alguém.
Então, sem conseguir reunir coragem ou palavras minhas para ir até ela e me abrir, eu guardo.
Guardo as coisas que queria falar, as poucas letras que se formaram na minha cabeça e qualquer sentimento que por um segundo tenha me enchido e me motivado.
E isso não acontece poucas vezes.
Até porque, não sei que dom é esse que as canções tem de traduzir o que sinto.
Já fiz uma playlist inteira só com formas de dizer “Eu te amo”.
Poderia até ficar nas músicas.
Ou nas músicas de amor.
Só que, em várias outras ocasiões, já me peguei lendo livros, vendo fotos, decifrando obras de arte e muitas delas, de alguma maneira, traduziam alguma coisa dentro de mim.
Estranho isso.
Um professor de português, certa vez, disse que eu não sabia me expressar muito bem, mas que meus olhos gritavam o que eu queria.
Então, o segredo para deixar algo fluir nas minhas redações era apenas fazer com que os olhos “transbordassem para o papel” tudo o que queriam dizer.
Nunca consegui ser assim.
Aliás, dar vazão aos meus quereres, desejos e vontades sempre foi algo complicado.
Primeiro, porque eu não gostava de impor nada a ninguém.
Segundo, porque tinha medo que a opinião dos outros em relação a algo que eu sentia poderia ser ruim.
O que eu aprendi nisso tudo Bom, que perdi várias oportunidades de falar algo e me posicionar.
E, também, que a opinião dos outros não deveria ser tão importante assim.
Mas eu preferi continuar colecionando palavras ao invés de distribuí las.
Queria arrumar alguém para trocá las, como figurinhas.
Alguém pra conversar mesmo.
Assim, bem mais do que perder chances de me fazer ouvir ou declarar o que sentia, fui me guardando.
Da vida, do amor, do mundo, de tudo.
Aquilo que não se sabe dizer, agora sei, não será dito.
Entretanto, o que pode ser colocado pra fora e que ajuda a levar uma vida melhor, precisa parar de travar a garganta e se afogar em covardia.
Como toda teoria, eu ainda não tenho ideia de como fazer isso na prática.
Tão mais fácil colecionar palavras que não tenho coragem de usar.
Às vezes é tão mais fácil calar.

Numa época em que os elos estão tão fracos e as amizades verdadeiras parecem coisa do passado, ter um amigo pra chamar de "seu" parece um achado.
Ou um milagre, diria um mais desesperado.
Tenho mais de um, graças a Deus.
Considero os além de amigos.
Coloco de um melhor modo.
Aos anjos que encontrei pelo caminho, dei um nome bonito: amigos.
Na alegria, na tristeza e nos mais variados momentos.
Meus eles são.
Deles eu sou.
É amizade.
É amor.
Não troco um hoje por dois amanhãs.
Por mais que seja arriscado, burro ou perigoso.
Por mais que seja uma estrada de mão única, esburacada e sem saída.
Por mais que esteja escuro, frio e a solidão te abrace bem antes da pessoa em questão.
Não se prive de viver e e entregar.
Por mais que não cure uma ferida passada, não te dê perspectiva de futuro e só encha teu presente de um tipo estranho de preocupação.
Por mais que o coração se divida, o pensamento se triplique e o corpo se feche para uma única pessoa.
Não mate o que pode ser bom.
Por mais que venha de não sei de onde, sabe se lá porquê e sem motivo nenhum pra ficar.
Por mais que esteja fora de moda, seus amigos digam que não vale à pena e os conselhos não sejam dos mais animadores.
Você só vai saber se tentar e meter a cara.
Por mais que seja por alguém desconhecido, quem ressurgiu do passado ou pela mesma pessoa todos os dias.
Se apaixone.
Felicidade é tirar um dez, ou conseguir média pra passar.
É entrar nas roupas que não cabiam, ou só naquele vestido para ir a uma festa esperada.
Pode ser o quarto gol da goleada do seu time, ou o único que bastou para a vitória.
Entenda, felicidade pode ser o copo transbordando, mas, muitas das vezes, é apenas ter algo pra beber.
É tudo uma questão de perspectiva e necessidade.
Lógico, quero ser muito feliz e que não vou me contentar com pouco.
Mas são as pequenas conquistas que fazem a diferença.
Alguns imperceptíveis milagres diários que acontecem e nos entregam sorrisos.
Quero ter a felicidade com tudo que tem direito, mas se ela quiser ir se chegando aos poucos (sem tanto estardalhaço), eu também aceito.
O silêncio de um abraço apertado às vezes supera qualquer tentativa de dizer o quanto é grande um sentimento.