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Renée Venâncio

Eu não sou devoto de nenhuma grife.
Eu não professo a minha fé no altar das aparências.
Eu sei que me falta brilho e glamour, mas será que um traje criado por algum guru da alta costura teria o poder de suprir as minhas carências Já ouvi dizer que alguns pedacinhos de pano recobrindo estrategicamente a pele, têm o poder de elevar a auto estima de pessoas vazias de si mesmas.
Só o jeitinho particular de cada um não basta, é preciso uma fantasia feita sob medida para que as pessoas possam disfarçar suas imperfeições, tapear olhares e se sentirem as mais especiais no meio da multidão.
Sou um estúpido que não sabe diferenciar um item de boutique de um adereço hippie confeccionado na beira da calçada.
Quando ouço falar em Victor Hugo, penso logo naquele cara que dizia que “Não há nada como um sonho para criar o futuro.
Utopia hoje, carne e osso amanhã”.
Pois é Eu também não sei quem foi Louis Vuitton, Dior, Calvin Klein, Hugo Boss; Gucci, Versace, Armani, Chanel e muito menos o que eles pensavam a respeito da vida.
Sou apenas um boêmio ignorante e um poeta démodé totalmente ofuscado pelas palavras costuradas pela minha caneta.
Sei que eu deveria aprender um pouco mais sobre as últimas tendências da moda, mas eu sou tão distraído pra essas coisas, e o modismo é uma febre tão passageira que, quando eu penso que um determinado figurino está no auge, na verdade, já virou cafonice há muito tempo.
A moda faz de mim um eterno prisioneiro do passado e o meu armário é um museu cujo acervo é incapaz de despertar a inveja dos meus semelhantes.
Sou um tipo assaz desinteressante, a ponto de nem ter que me preocupar em tirar as minhas máscaras toda vez que eu volto pra casa.
A minha cara é ter a mesma cara todos os dias.
Temo que para ser notado seja necessário que eu me transforme numa vitrine viva, mas a passarela da minha vida é bucólica demais, e apenas se resume na rotineira alternância dos dias se vestindo de noite e das noites se despindo sob a luz do dia.
Talvez eu devesse conhecer mais a fundo a alma dessas grifes e marcas por detrás das quais as pessoas se escondem para se sentirem mais seguras de si, mas o que pode valorizar mais a existência de um homem: a marca da sua roupa ou o legado das suas idéias Não sei Eu nunca tive etiquetas informando do que é feito o meu coração.
Não existe um logotipo capaz de definir melhor a pessoa que sou do que as minhas próprias atitudes.
Eu sou assim, como me vêem.
Sou um símbolo de mim mesmo e defendo sem hipocrisia as cores que eu escolhi, e não as que querem me vender.
Eu não gosto de expor a minha figura ridícula antes do último gole, mas adoro mostrar ao mundo tudo aquilo que eu gostaria de ter sonhado durante as minhas solitárias noites de insônia.
Adoro medir as consequências dos meus atos, planejar os meus passos, me colocar no lugar dos outros e não me acomodar com aquilo que me incomoda.
Para mim, calar me diante de qualquer injustiça é como andar nu – me dá vergonha.
Reconheço que me falta panca na hora de fazer pose para o mundo.
Mas o que eu posso fazer se eu nem sei no que os deuses da moda querem que eu me transforme para que eu possa atrair mais atenções Será que nos livros que eu leio eu vou conseguir encontrar respostas que me façam compreender o que as pessoas pensam a meu respeito Creio que não.
De certo eu serei estigmatizado para sempre como um reles artigo de promoção.
Mas esse é o meu jeito: simples assim, raso jamais.
Muitos dirão que eu não tenho estilo e nem charme, mas quero deixar bem claro que tudo que existe de mais fashion em mim, só quem faz parte da minha vida é capaz de enxergar.
Este é o meu jeito de me mostrar ao mundo, e nada em mim é feito de retalhos.
E se eu tenho alguma beleza que valha a pena ser exaltada, ela estará escondida muito além das roupas que eu visto e poderá ser encontrada aqui: desfilando faceira bem no fundo de mim.

A confiança é um dos sentimentos mais nobres que um ser humano pode colher e cultivar dentro de si.
Confiança é a base das grandes amizades, dos amores verdadeiros e das relações que não se baseiam na mentira.
Confiança é a raiz do entendimento, até mesmo entre seres opostos.
É o elo mais forte dessa corrente que une pessoas que se completam de alguma forma.
Confiar é entregar ao outro, sem medo, tudo que há de mais valioso dentro do nosso coração.
Podemos dizer que a confiança é como uma taça feita do cristal mais translúcido e delicado que possa existir.
Se essa taça cai e se quebra, não há mais nada no mundo que possa devolver lhe as mesmas formas de antes.
Confiança, quando vai embora, nunca mais volta.
Confiança é pedra preciosa que não se atira ao mar.
E por mais que haja em nós a bondade e a nobreza do perdão, depois de provar a frustração de ter acreditado em vão em alguém, sempre ficaremos com uma pulga atrás da orelha a nos roubar a tranqüilidade do sono.
A desconfiança é uma ave agourenta que paira dia e noite sobre as cabeças dos enganados.
Desconfiar cansa e faz definhar os nossos melhores sentimentos.
Para se gostar de alguém sem restrições e manter um convívio são, é necessário que haja credulidade entre as pessoas.
Credibilidade não é uma invenção de última hora, é uma conquista paulatina.
Se não houver confiança numa relação, não haverá mais nada pelo qual valha a pena lutar.
Sem confiança não há liberdade de gestos.
Sem confiança não há entrega.
Sem confiança, todas as portas da nossa alma se trancam, e a luz que deveria iluminar a nossa aura, se dilui numa espécie de escuridão que assombra a vida da gente.
Confiança não se compra, não se vende e não se finge.
Confiança é a força que nos move na direção de quem a gente mais ama.
E, por mais que sejamos imperfeitos, confiar e ser confiável é muito mais do que um simples tratado social, é uma questão de caráter e de respeito ao próximo.
Confiar é a arte de poder amar sem medo, dormir tranqüilo e sentir o doce perfume da paz em cada movimento da nossa respiração.
Confiar dispensa meios termos: ou é para sempre, ou é para nunca mais.