Otávio D'aspas
Era complicado
Entender o que se passava
Na cabeça daquele homem.
De tanto por medo nos outros
Ficou com medo do espelho
Onde via seu reflexo
Aí quebrava
E se assustava
Com os sete anos de azar.
Usava aspas
No lugar do chapéu
E quando queria
Pintava o céu
Todo de preto
Para dormir no escuro.
Sentia frio
Quando o sol queimava
Mas sempre recitava
Todo estridente
Uma rima incoerente
E diziam
Que ele falava com o Rei
O que manda no sol
E faz chorar as nuvens.
Eu temia
Pagar pra ver
E acabar sob seus braços
Ser jogado, aos pedaços
No chão da sua sala de estar.
Ora ria
Ora chorava,
Mas sempre fechava as portas
Quando a lua dizia “olá”.
Devia ser alérgico
Ao sereno da noite
Ou aos casais apaixonados
Amantes das estrelas
Que ele pintava de preto.
Talvez ele só gostasse
Dele e das suas rimas
Que recitava, estridente
Inacabadas e incoerentes
Mas significavam muito
Pra quem usava aspas no lugar do chapéu.