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Anônimo

Conto: Um coração partido é cego.
Um conto baseado em um a música da dupla The Black Keys.
Ele liga para ela do telefone velho da base militar.
Depois de um tempo de conversa, a ligação cai e a telefonista não consegue fazer contato novamente.
Não é possível completar a chamada, soldado.
Apenas me coloque na linha novamente, por favor.
A operadora tenta outras vezes, mas a mensagem é sempre a mesma.
Sem chances.
Pelo conteúdo da conversa ele sabe que tinha realmente magoado seu amor, mas só queria ser breve e dizer que ia voltar para revê la, independente do que havia acontecido.
Nada justificaria o mal que ele causou, mas já é tarde para se lamentar.
Ia contar toda a história a ela quando voltasse para que ela ouvisse de sua boca, não de terceiros.
Depois de tanto tempo, jamais pensaria que aquilo voltaria à tona e só ele sabe como as lembranças do erro ainda o atordoam.
Antes de a ligação cair, ela disse que estava tudo terminado.
Depois houve um longo silêncio.
Apesar disso, ele intimamente ainda alimenta esperanças.
Não sabe o motivo de tudo aquilo estar acontecendo.
A única coisa que gostaria era ir embora para justificar seus injustificáveis erros.
Soa a sirene.
É sinal de que ele, dentro de minutos, tem de estar pronto.
Durante todo o processo de preparação até a chegada ao ponto do conflito, ele não está verdadeiramente ali.
Não consegue se desligar do que ela lhe disse.
Só pensava nos planos que tinham juntos.
Do casamento que viriam a ter.
Dos filhos brincando no quintal.
Do sorriso dela.
Tiros e bombas cortam seus pensamentos.
Ele desce do veículo com os outros soldados e são recebidos com metralhadoras cuspidoras de balas.
Se escondem, revidam e já estão ofegantes.
Os mais corajosos avançam e disparam contra o inimigo.
Muitos são atingidos, soltando gritos de dor.
As bombas explodindo não impedem que seus pensamentos de estejam nela.
De costas para o carro e com os olhos cheios de lágrimas o tempo passa devagar dentro de sua mente.
Naquele momento, as ordens e as preces não são ouvidas.
Sente dor.
Tenta se focar, mas o modo como ela o olhava não sai de sua cabeça.
Os lábios, que se encontravam tantas vezes com os dele, sussurram palavras que ele não consegue compreender.
Se esforça e na mais irresponsável atitude, tenta se aproximar.
Sem sucesso.
A dor ao seu redor é maior e cala tudo.
Subitamente, passa só a vê la e não mais ouvi la.
Foi atingido.
A cabeça pende para trás.
Sangra.
Os companheiros que resistem ao ataque gritam para alguém socorrê lo.
O soldado mais próximo o coloca nos braços e pressiona o ferimento na lateral da cabeça.
Todos sabem que é em vão.
Ele sabe que será em vão.
Um calor lhe envolve.
Os olhos arregalados e fixos no céu encontram se com os dela.
A respiração rápida e curta é sincronizada com as lágrimas que escorrem pelo rosto ensanguentado.
Não deixou de pensar no seu amor um minuto.
“Como posso não ter visto Eu deveria ter visto ”, pensa ele.
Não viu o que lhe atingiu e nem de onde veio.
As vozes lhe chamam.
A voz dela o chama.
Os sentidos falham.
A visão então escurece e ele sabe o verdadeiro motivo: um coração partido é cego.