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alexandre morais

Você vai embora, deixando para trás várias histórias, vários sorrisos largos e brancos que me cegam, que fazem aparecer essas covinhas, que eu sinto a vontade de mergulhar e me refrescar no seu suor, que fazem qualquer um perder o juízo, até mesmo o mais duro dos corações.
Impossível não notar, impossível não olhar, impossível de falar.
Beleza inimaginável.
Obra esculpida não pelas mãos dos anjos e sim das mãos de Deus.
Perfeição.
Sem hesitar, sem errar.
Ele quer que você caminhe pelo plano terrestre para depois encontrar a paz.
Vários seria os séculos, as décadas e os anos que ele poderia ter te esculpido.
Mas não.
Ele queria que eu te encontrasse, ter te conhecido, ter te admirado.
Em silêncio.
Mas te admirado.
Com a mesma admiração de quando uma mãe dá luz a um filho.
Uma admiração verdadeira.
O que sobrou foi só a saudade.
Saudade essa que crava com as unhas cada dia o meu coração.
Que vai ferindo e sangrando, gota a gota, até chegar a hemorragia vermelha, fria e sombria.
Não pelo vermelho do sangue, e sim o vermelho do amor.
O trem vai partir, levando com ele nos trilhos os pés mais delicados, no farol o olhar mais brilhante, penetrante e intenso.
Na chaminé os cabelos, que ao vento ganham os ares do horizonte.
No apito a voz, doce e serena, que cruza os ouvidos e vira melodia no corpo.
O seu andar leva passageiros, não como matéria ou apenas carne, e sim como pessoas, que encontram a segurança de poder embarcar nesse trem.
Trem esse que tem tudo para ganhar o mundo, mas que nunca esqueça de onde partiu, de quem o idealizou e o concretizou.
Até dos que quando acabou o combustível, desceram no escuro e deram um empurrão.
Vá em frente, faça falta e preencha o vazio, arrepie meu corpo, me entristeça com a sua distância mas me alegre com suas conquistas.
Não lembra te de mim, lembre se apenas que eu me lembro de você.

Milênios e Séculos, Dias das Horas
Meu amor por você é milenar.
Veio lá de trás
quando nada existia
e tudo começava a se criar.
O graveto e a pedra mordiscar,
as árvores ainda não eram plantadas
não se precisava de paz
nem correr por medo do tempo.
As águas agrupavam se ainda
por debaixo da terra,
se preparando para formar os rios
e os mares.
A chuva não castigava,
deslizava sobre as primeiras gramas
verdes, destacadas do cinza
das tempestades arqueológicas.
Nosso amor, apareceu bem antes
do primeiro arco íris
e no final dele colocou o lendário ouro tilintante,
com um trevo de quatro folhas
atrás da orelha.
Esse amor partiu do nada,
do branco intato.
Nem era escrito em poesias.
Eu e você nem existíamos.
Os romances nem pai e mãe tinham
e as quatro estações estavam indecisas entre si.
Inventou ditados populares
e até pintou com Da Vinci
Que amor é esse
Dono de tudo
dono do passado,
do presente
e do futuro.
Dono de mim
malandro que sou,
honesto vagabundo.
De você minha dama
do olhar profundo
para esse que rege com mão de ferro
todos os meus desejos astutos.
Nosso amor, alimentou o primeiro
caso de fome da história mundial.
Chorou por ver guerras,
caminhou a passos, ora largos, ora estreitos.
Já pensou em desistir de nos encontrar
até já voltou bêbado a pé de outro continente
colhendo flores dos jardins alheios e imaginários,
se esperançou ao ver uma criança nascer.
Não quero entender esse amor
que já viveu de tudo neste terreno instável.
Quero apenas sentir a cada momento
a sua existência anormal e inexplicável
e ver que ele ainda acredita em Deus
nos homens, na natureza
em nós, seres amados.
Não ignore este amor que durou
séculos e séculos de vida
nas linhas das páginas dos anos.
Se ele andou sozinho
todo esse tempo,
enfrentou a velhice com suas dificuldades
e preconceitos,
não foi à toa.
Tartamudo e irreverente
sorriu para todos os lados
e hoje estamos deitados
no ápice da intimidade
com os prazeres a flor da pele,
na cama aquecida,
esperando cada segundo girar
bem devagar
como se fosse um desespero do fim.
Sei que na lápide ele não se encerrará,
continuará em outro lugar
mais denso, junto com nós dois
de mãos dadas e eternos
direcionados por anjos serviçais.
Nosso amor viverá
conosco, no céu de lá.