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Alex Possato

Coração em greve
Ei! Psiu! Queria falar com você! Aqui olha pra cá mais pra baixo do lado esquerdo fazendo tum tum.
Tum tum.
Ainda estou batendo, apesar de tudo.
Você tem me esquecido, não é mesmo Mas o pior não é isso: está me contaminando.
Sim, você tem me dado muito veneno, e eu tive que me fechar, me proteger, pra evitar entrar em colapso.
Mas agora cansei, e resolvi protestar.
Levantar minhas faixas na rua:
pare de guardar seus sentimentos!
fora repressão!
assuma suas dores!
queremos lágrimas sinceras!
mágoa livre!
mais amor, menos silêncio!
abaixo as máscaras!
Sabe, cara: tô cansado de ver você entrar em relação, e sair de relação e não se expressar.
Se tá magoado, não fala.
Quando fala, só briga, mas não tem a capacidade de dizer: você me machucou.
E aí, depois que briga, se arrepende.
E também não fala: sinto muito.
Agora, fui eu quem te machucou.
Eu ainda te amo.
E aí se afastam, e você não diz: tô com saudade! Sinto a sua falta.
Foi muito bom o que vivemos.
Então, vê o outro com outra, e não comunica: ahhhh, que inveja! Como eu queria que fosse eu! Tomara que acabe logo só pra ele sofrer mais um pouco.
E logo em seguida, quer voltar atrás: nossa! Que maldade como pude sentir coisa tão ruim assim.
Que sejam felizes.
Eu vou continuar aqui, sozinho na minha dor
E você sabe, cara.
Anos e anos assim.
Sem expressar seus sentimentos pras pessoas que você ama, as que odeia, as que ignora, as que te ignoram Sem expressar seus sentimentos nem pra você mesmo! Mas saiba você que cada palavra não dita cai como ácido sobre mim.
E eu tenho que me fechar, me proteger.
Preciso falar uma coisa: Eu fechado, impeço você de amar.
De sentir alegria.
Prazer.
Êxtase.
Plenitude.
Confiança.
Todos os sentimentos passam por mim.
Se você nega um, nega todos.
Se não sabe demonstrar sua raiva, sua mágoa, seu perdão, sua amizade, sua alegria você começa a dizer para mim que não sou tão útil Você está me esquecendo, achando que minha única função é fazer tum tum.
Tum tum.
Tum tum uma pinóia, cara! Não tô aqui pra ser bateria de escola de samba.
Eu existo porque sou a razão principal da sua existência sentir! Manifestar o que você sente.
Viver em plenitude.
Curtir a vida! Em todas as suas nuances.
E você preso aí nesse cérebro.
Só querendo saber.
Resolver.
Chegar a algum lugar.
Entender.
Ah, vá
Tô pensando em entrar em greve.
O que acha Vou dar uma paradinha No começo, é só um alerta.
Uma pequena parada.
Só um susto.
Mas se você não olhar direito para seus sentimentos, a parada vai ser mais longa Um dia.
Ou uns três dias E não vai adiantar entrar na justiça trabalhista, viu
Quem sabe você resolva validar seus sentimentos.
E expressá los.
Eu só quero uma coisa: me deixa trabalhar.
Mas do meu jeito! Na totalidade.
Pare de usar tantas máscaras.
Pare de fingir.
Seja mais coração, cara! E menos cabeça

A ilusória sensação de abandono
Dentro de nós reside um ser abandonado.
Que surgiu em vários momentos em que não nos sentimos vistos e validados pelo papai ou pela mamãe.
Às vezes, por ambos.
Este ser tem medo de ser abandonado novamente, e faz de tudo para ser visto, aceito, incluído.
Usa diversas estratégias: desde ser o melhor, para impressionar e agradar o outro, até confrontar e manipular, obrigando o outro a amá lo.
Mas ele sabe que, no final, não conseguirá "se sentir pertencendo".
Afinal, ele é "o abandonado".
Imerso nesta energia, nesta máscara moldada na dor da perda de atenção do pai ou da mãe, subornamos nossos amores, amigos, clientes quanto maior a dor, maior a estorção: me vejam!!! Olhem pra mim!!!
Depois cedo ou tarde, o abandonado se isola.
Se retira.
Acaba até abandonando.
E a promessa está realizada.
Fui abandonado!
A relação afetiva acaba.
O emprego perde o sentido.
A família é deixada.
Grupos desfeitos.
Amigos esquecidos.
Até Deus é abandonado.
E então, começamos tudo novamente.
A busca pela aprovação.
Pela validação.
Pela inclusão.
Em novos grupos.
Novas relações.
Novos trabalhos.
Novos caminhos espirituais.
Queremos muito pertencer, mas não nos sentimos pertencentes
Cabe urgentemente a necessidade de aprender a lidar com a sensação de abandono.
Ela é uma imagem do passado.
E todos os sentimentos agregados que o abandono traz: raiva.
Medo.
Auto comiseração.
Competitividade.
Sedução.
Culpa.
Sim, me senti abandonado e ninguém poderá mudar isso.
Dói muito.
E não há o que fazer.
Diga ao seu "ser abandonado": preciso validar você, dentro de mim, que sofre.
Eu, pelo menos, não irei abandoná lo.
Mas também não irei seguir suas estratégias, que me levarão, cedo ou tarde, ao isolamento.
Eu e você não precisamos sofrer mais do que já sofremos.
Pra que agradar todo mundo Pra que manipular Amarrar a família, os amores, os amigos, os parceiros Confrontar o mundo Isso de nada adiantará.
Faz se necessário aprender a lidar com a impermanência das relações.
Todas elas, um dia, acabarão.
Alguém sempre será deixado.
Nem por isso, devemos apressar o andar da carruagem.
O abandonado é somente o ponto de vista infantil de alguém que não aceitou a dor da partida.
O sábio, dentro de nós, não olha para quem vai.
Nem para quem chega.
O sábio está presente.
E sorri quando alguém vem.
Se enternece quando alguém vai.
Sabe lidar com os sentimentos agradáveis ou não, e não os vincula às pessoas.
Pessoas despertam nossos sentimentos.
Os sentimentos são sempre "nossos".
Independem do outro.
Lidar de forma madura com eles os sentimentos, despersonalizando os, é a maior lição.
E se não damos conta de lidar com o nosso "abandonado", nem com as dores provocadas pelos inúmeros abandonos que vivemos, e outros que patrocinamos, há que se ter a força hercúlea de pedir para que Algo Maior nos ajude.
Pelo menos uma vez na vida, o "abandonado" precisará ceder e deixar o seu maior defeito de lado: o orgulho.
E então pedir ajuda.
E abrir se para receber a ajuda.
Na forma que ela vier.
De quem ela vier.
Ela virá.