E qual é a minha definição de amor
Tenho o nome de uma música do Chico Buarque, bem antiguinha, a que meu pai cantava no karaokê do bar próximo à sua casa.
Depois que eu nasci, ele passou a me levar junto e no final da música fazia questão de dedicá la pra mim.
E eu ficava na mesa, morrendo de vergonha e pedindo que ele parasse com aquilo.
Mas ele sempre fazia novamente.
Ele sempre cantava a música do meu nome e dedicava pra mim.
Por anos.
E nunca sequer ficou com raiva ou magoado por eu sentir vergonha dele por isso.
Isso é amor.
Quando eu era pequena, sempre que minha mãe chegava do trabalho, eu perguntava se ela tinha trazido presente.
E ela, todo santo dia, antes de ir pra casa, passava no supermercado e comprava alguma coisa, mesmo que fosse apenas um bombom.
Ela nunca voltava pra casa de mãos vazias.
Nunca quis me decepcionar.
Isso é amor.
Aos oito, vi uma gelatina no chão perto do caixa do supermercado e a peguei.
Ao atravessar a rua, mostrei pra minha tia.
Que me fez voltar, devolver e me desculpar pelo roubo.
Ela sempre me fez ser e querer ser uma pessoa melhor.
Isso também é amor.
Um dia falei pro meu namorado que não gostava de flores, porque eram apenas um presente fútil que se dá quando não se quer ter esforço pra agradar uma mulher.
Mais uma grande tirada do capitalismo.
Ri e completei que só iria gostar se ele mesmo fizesse a flor.
Então ele passou o dia inteiro tentando fazer uma flor de origami por vídeos da internet, pra me dar.
E foi o melhor presente que eu já recebi.
É isso.
O amor é isso.
É a música do karaokê,
o bombom do supermercado,
a lição sobre a gelatina,
a flor de origami.
O amor é o detalhe.