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Jeferson Luís da S. Abreu

Oito dias sem você.
Oito dias sem você é estar na luz do sol e não sentir o calor,
Estar embriagado de paixão e não dar amor,
É padecer sob a noite e a escuridão,
Pular de uma aeronave sem um paraquedas nas mãos.
Oito dias sem você é estar à beira da morte, sem respiração,
Tentar sentir o pulsar, mas ter parado o coração,
É chorar pela saudade e rir por desespero,
Sentir falta de tudo, comer comida sem tempero.
Oito dias sem você é agonizar com um sapato apertado,
Sentir tocarem o interior do umbigo e ficar desesperado,
É notar que a minha vida está ausente,
Não ter por perto meu mais valioso presente.
Oito dias sem você é estar preso em um oceano de aflição,
Ver uma lança afiada transpassando o coração,
É metade de mim que aqui não está,
Minha melhor metade que de saudade vai de me matar.
Oito dias sem você é ser criança e não rir,
Ter vida mansa, mas não ter alegria que outrora estava aqui,
É estar de regata no centro polar,
Sentir a falta de força, o cheiro de morte e não dizimar.
Oito dias sem você é musica sem instrumento,
Amar sem sentimento,
É choro sem lágrimas, tempo que não passa,
Ausência que dói, brinde sem taça.
Oito dias sem você é dança sem movimento,
História sem fatos, filosofia sem pensamentos,
É corpo sem vida e vida sem alma,
Sorriso sem dentes, teatro sem palmas.
Oito dias sem você é saudade que não tem fim,
Poema falando sobre meu amor que está longe de mim,
É existir no nada, sem céu, sem chão,
Tentar viver sem as carícias que dão vida ao meu coração.

Cansado.
Estou cansado do trânsito, do dinheiro,
Do trabalho e do descanso.
Estou cansado do dormir e acordar,
Do ato de crescer, da finalidade de estudar.
Estou cansado da fumaça, do cigarro,
Do por do sol, do céu nublado,
Do viver e do existir sem causas exatas,
Cansado de não saber o que tenho ou quem sou.
Estou cansado de ser polido, educado,
De ser grosso e estúpido e fazer descaso.
Cansado dos casos e acasos,
Do à vista e do à prazo.
Estou cansado do consumo sem necessidade,
Do comprar por status, para ter conceito.
Cansado de pensar que riqueza define ego,
De não saber o que é um ego ou o que é meu ego.
Estou cansado do tudo industrializado,
Do anel da ciranda que foi quebrado.
Cansado da era da poluição,
Da política e da corrupção.
Cansado do ralar para ter,
Do papo furado de que todo esforço terá reconhecimento (que reconhecimento ).
Cansado do mais e menos,
Das oscilações da vida.
Estou cansado dos impostos pela terra,
Pela água, pelo ar, pelo sol e pela guerra.
Casado de voltar no ontem ou de esperar o amanhã,
Fingindo que não existe um presente entre os dois.
Estou cansado do emprego mal reconhecido,
Do trabalho escravo de um escravo abolido.
Cansado do julgamento que não tem sentido,
De ser acusado e inocentado por um povo sem olhos e ouvidos.
Estou cansado de ser quem querem que eu seja (como se não pudesse ser eu mesmo),
De chorar por seres que não mereçam (há meia dúzia de bons, talvez uma dúzia).
Cansei de escrever a tristeza, a melancolia e o cansaço no poema,
Por isso, ainda que cansado, farei da vida a utopia de um romance no cinema.