Carta ao Menino Jesus:
Querido Menino Jesus.
Um beijo.
Parece que sinto o cheiro do bafo da vaquinha, do burrinho e das ovelhinhas ao teu redor.
Naquela que foi a nossa casa (hoje um montão de pedras calcinadas), também já tivemos desses amorosos animais e outros mais, a quem eu punha um nome próprio a cada um.
Morreram todos no inferno que foi o incêndio na minha aldeia.
Não sei explicar o porquê (mas diz se tanta coisa )
Olha, meu Irmão: Ainda trago nas narinas, o cheiro desagradável das coisas esturradas, das vidas desfeitas e ceifadas.
Repara: Não te quero pedir, nem brinquedos, roupas, sapatos ou até iguarias de natal.
Apenas te rogo que guardes e ilumines as almas de meu paizinho e de meu irmão mais velho, o Juca, cujas vidas foram foram sacrificadas injustamente.
Só fiquei eu e a minha mãezinha e choramos ainda de noite e de dia
As gentes solidárias, andam aos poucos, caridosamente, a erguer uma nova casinha que anseamos esteja pronta até ao dia do teu nascimento.
Recebe, Menino Jesus, outro beijinho e perdoa me se interrompi o teu soninho.
A sempre tua Ana C.