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Martha Medeiros

Amantes promovidos
Venho percebendo um fenômeno da ordem dos menos importantes, mas, ainda assim, curioso.
Antigamente, a pessoa casada que vivia um relacionamento extra conjugal tinha o quê Um amante.
Homens tinham amantes, mulheres tinham amantes, e amantes não tinham a menor chance de receber alguma condescendência por parte da sociedade.
O povo caprichava na hora de estereotipá los.
No caso das amantes, eram descritas como notívagas que vestiam vermelho, mantinham garras afiadas, lingerie de tigrinho e cabelos excessivamente compridos.
No caso dos amantes, eram homens com emprego incerto, que podiam escapar no meio da tarde, e que usavam camisas listradas.
Por que camisas listradas Sei lá, deve ter alguma relação com a imagem do malandro, uma coisa meio Moreira da Silva.
Mas sem o chapéu.
Os amantes exalavam luxúria.
Eram pessoas de índole duvidosa, já que pouco se importavam de estar colaborando para a ruína dos lares.
As amantes eram umas sem vergonhas que queriam fisgar um marido a qualquer preço, os amantes eram uns farristas que divertiam se comendo a mulher do próximo.
Um pessoal absolutamente sem coração.
Alguém ainda tem amante Nunca mais ouvi falar.
E olha que eu lido com gente à beça, de tudo quanto é tipo, formato, cor, idade, estado civil.
Ninguém mais tem amante.
É uma raça em extinção.
As pessoas, agora, casam e são felizes para sempre.
E, quando acham que o "pra sempre" anda meio tedioso, arranjam um namorado.
Homens têm a esposa e uma namorada.
Mulheres têm o marido e um namorado.
Nunca vi nada mais familiar.
As namoradas são estudantes, médicas, bibliotecárias, mulheres que usam jeans e camiseta, cabelo curto e unhas curtas, elegantes e discretas.
Discutem Nietzche, são companhia para um cinema, passam as festas de fim de ano com a turma sem reclamar.
Os namorados são surfistas, engenheiros, instrutores de informática.
Mandam e mails carinhosos, sugerem discos de jazz, dizem eu te amo.
Amante é coisa de quem curte relações clandestinas, transa atrás das portas e exagera no perfume.
Uma decadência.
Os amantes foram promovidos a namorados.
Adeus vestidos vermelhos e camisas listradas.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.