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Thiago Mariano

Mais do que adquirir conhecimento a arte de pensar defini se pela habilidade de selecionar grãos.
Um pensador não é bom porque usa frases de efeito, técnicas psíquicas ou dados estatísticos é claro que isso serve a todos os pensadores.
Um pensador é bom e tem mais razão quanto mais souber separar trigo de joio e de milhares de outros grãos que se imbricam no meio dessa seara complexa e transmutante que é o pensamento.
Nações se erguem sob maus pensamentos e pensadores, culturas se desfazem debaixo da batuta de outros tantos.
Será que eles não exercitam bem o pensamento Quase sempre não é essa a razão, o motivo é que confiavam e confiam demais na veracidade do pensamento.
Mas hei, um pensamento não é coisa dominada, nem definida – sequer explorada.
Os pensamentos vêm assim como se vão e não sabemos como se processam nos seus substratos essenciais, desde a raiz.
Lá na frente, depois de erguida uma colossal estrutura lógica moral ou estética, a gente percebe que algumas das colunas são belos gatos comprados por lebres.
Ninguém lê mais com a acuidade e apreço com que nossas avós catavam feijão.
Colher grãos e separá los, eis o exercício do pensamento pelos livros e pela vida afora.
Pensamos hoje, assim como amamos, nos intervalos – entre uma aula e outra, entre uma escala de trabalho e outra.
E temos sempre uma opinião pra dar, mas tempo e desejo pra grãos poucos têm pra catar.
E se pensarmos no quão dialética e mentirosa é a metáfora dos grãos, essa mesma que acabei de usar, veremos o quanto é preciso ainda mais grãos catar.
Quero com isso dizer que a estrutura do pensamento é, em sua base, de ideias dúbias – de pólos opostos – lógica binária.
E a realidade, a seara da vida é tão mais vasta, tão mais rizomática que nossas parcas metáforas ocidentais.
Então, imagine que pensar e formar opiniões dependa de se sair feito Alice pelo país das maravilhas, onde tudo pode se transformar em um piscar de olhos no seu contrário e principalmente em milhares de outras coisas heterogêneas.
Antes de darmos nossa opinião aprendamos a desconfiar dos grãos, assim como da televisão, dos pais, da igreja e daquele professor de história espertinho com ar de sabedor.
E dos velhos sabedores Dos novos também.
Selecionar!