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Thaylla Cavalcante

Acordei e foi como um sonho, na verdade, um pesadelo.
Nada daquilo fazia sentido, era uma realidade paralela à minha.
Não conseguia me enxergar em reflexos, era uma estranha a mim mesma.
Levantei daquela cama, ensopada de suor.
Me despi de todas as cobertas, de todas as vestimentas, em seguida, de todo pudor.
Meu corpo pulsava e nem eu entendia os motivos exatos.
Mordi os lábios, rasguei a pele com as unhas, joguei longe a anel que me deu.
Queria ser livre de tudo que te agradasse, de tudo que lembrasse você.
Busquei a última lâmina por entre os papéis da minha gaveta.
Todos os poemas que te fiz, que nunca tiveram valor algum.
Poderia queimá los.
Talvez o fizesse mais tarde, agora, a prioridade era outra.
Abri a gaveta que estava trancada, uma garrafa de whisky, um vinho barato, mais algumas lâminas e outro punhado de textos.
Afinal, quanto tempo perdi escrevendo para você Sempre foi assim.
Sempre senti demais, e a intensidade na maioria das vezes não é algo bom.
O Whisky queimava minha garganta ao descer, bebi direto da garrafa.
Pra quê usar copo Você já me causou sujeira demais pra umas três vidas.
Queria um cigarro, daqueles que acabaram quando eu fumei uns 5 maços durante muitos dias.
Me fazem falta agora.
Lembrar de você nunca é bom, me causa sensações que eu preferia não despertar.
Chega! A lâmina percorria meu pulso como se fosse feita para isso.
Meu braço, já cheio de marcas, ganharia mais uma, meu coração às aguentou, uma a mais ou a menos, pouco importaria.
Queria entrar no carro, dirigir até bem longe de você, voar até o outro lado do mundo, e ainda assim não seria o bastante.
Não seria porque tenho te num lugar tão infortunando que não posso esconder te de mim, esconder te de ti.
Você me marcou, abriu uma ferida daquelas em que a gente grita e agoniza só de pensar em ter.
Ainda assim, eu deixei, te deixei parmanecer nessa zona que até então achava ser impenetrável.
Permeou em minha utopia, fez dela nossa, fez do meu medo a sua fonte vitalícia de energia e poluiu a fonte, sem fonte não tem vida, sem vida, o ciclo se acaba, e acabou.
Dois goles de vinho.
É de longe o pior que já tomei, ferve me a pele e me remexe as entranhas.
Preferia que fossem dois socos no estômago, mas são quase isso.
As melhores bebidas te deixam ébrio com apenas poucos goles, isso também costuma acontecer com as que são baratas.
Caramba! Queria um cigarro! O armazém da esquina agora me parece longe e inalcançável, seria quase como percorrer uma estrada sem fim, não sei se estou pronta para a jornada.
Nem sei se valeria a pena mais alguns passos que fossem, seriam por você.
Você nunca valeu o esforço, nenhum esforço.
Continuo sentada nesta escrivaninha, agora o relógio marca 3:00 da manhã.
A hora dos demônios, não Pois bem, os meus estão soltos a bastante tempo.
Rodeiam a vida, a casa, o quarto, meus pensamentos.
Um dia você me disse "O inferno não está tão longe".
Nunca fez tanto sentido, nunca concordei tanto.
Tens razão.
O inferno é logo aqui, ao alcance da palma de minha mão.
Passei os dedos por entre os cabelos, abri a janela e estive um certo tempo olhando o céu.
Pularia da janela, se fizesse diferença, não faz.
Continuo aqui.
Trancada neste antro de expectativas e esperanças mortas.
Você me prometeu ficar, mas eu sou a única que continua aqui.
{Epitáfios para Lígia}

Infeliz despedida.
A chuva castiga, o frio maltata.
Mas a solidão me aterriza, me faz manter os pés no chão, independentemente do que vier agora, é disso que preciso.
Meu celular está quase sem bateria, agora não saber teu número decorado bastaria, mas não basta, porque aprendi, assim como a aceitar tudo que vinha de você, aprendi a prever suas palavras, atitudes, seus passos.
Aprendi que você pisca rápido os olhos quando está nervoso, que dá um riso escandaloso quando está sendo sarcástico, que mexe no celular quando quer evitar contato visual, que a tua calma sempre esconde algo, que não deixa ninguém te ver por inteiro, que estraga qualquer iminente preocupação dos outros ao teu respeito e que morre engasgado com tudo que não diz, porque pra você, é sempre melhor mostrar que não se importa.
Mais cômodo, talvez, mas não melhor.
Não pra mim, nem pra você.
Toda essa comodidade juntou se a um contexto amplamente caótico de minha vida, que juntou com tua ausência, com nossas perspectivas abertamente opostas e com tudo que você projetava em mim.
Nós fomos dois covardes por aceitar sem lutar, logo a gente que sempre foi tão de luta
Meu relógio marca 3:00 da manhã.
Dizem que é a hora dos demônios, talvez seja, mas não dos meus.
Regularmente eles passeiam fora de hora por esses tantos caminhos tortuosos.
Daria meu rim por um cigarro agora, ou por qualquer droga que me anestesiasse e me mantivesse bem longe de tudo isso que eu não sei sentir.
Acho que quero beber.
Acho não, eu quero! Se bem que eu nunca consegui paciência! Horas de desespero (complete a frase).
Vou até a conveniência da esquina ver se encontro alguma coisa forte.
Voltei com o whisky mais vagabundo que encontrei.
Menos mal, o efeito vem mais rápido.
A atendente da loja me olhou com pena e eu até entendi.
Não consigo nem dizer qual das duas reações mais me impressionou.
Estou de jeans rasgados, manga longa, Havaianas e na chuva estranho seria se ela me achasse normal.
Acho que sou realmente muito exposta.
Tenho um cigarro entre os lábios, conduzindo o com meus dedos em V.
Que representativo, né O símbolo da paz, a paz que só tenho encontrado nessas circunstâncias.
Enfim, servi a primeira dose, tô analisando o copo a uns 15 minutos e meu estômago já tá se revirando.
Eu odeio beber, sempre odiei, mas é preciso.
Engoli tudo, e desceu queimando além do esperado.
Sinto minha garganta arder pela exposição, mas o efeito foi bom, até consegui te esquecer por uns minutos.
Acho que vou repetir, na verdade, acho que tenho por obrigação repetir isso.
Tomei mais alguns copos, sempre os batendo na mesa, e a cada novo golpe, ele se desgasta, mais e mais.
Acabou rachando, me veio à mente uma analogia bem interessante, algum palpite Uma dica, é bem clichê.
Acertou quem disse que é meu coração.
Mas a culpa é minha.
Bati o copo na mesa e insisti nessa droga de relação.
É compreensível estar nessa situação agora, a culpa é minha por não perceber o óbvio, mas quer saber Que se foda essa compostura infundada.
Um bom jazz está tocando em meu notebook, mas o som agora parece tão distante.
Já nem sei diferenciar o real do imaginário, a linha ficou tênue demais, parece uma corda bamba sobre a qual venho me equilibrando a um certo tempo, e agora eu caí.
A melhor parte foi quem estava lá pra me segurar, isso mesmo, ninguém.
Sinto tua falta, mas sinto falta das viagens de moto com meu pai, sinto falta do meu ex (presidente), sinto falta de muita coisa que nunca mais será minha, senti falta de escrever, e cá estou, bem como senti falta de fumar a um tempo (felizmente isso estava ao meu alcance).
Pra resumir e deixar desse mimimi, é, isso eu também vou superar, a gente vai.
Faço muito drama né Eu sei.
Mas não escrevi nada disso com a intenção de te mandar, então se acontecer, é porque já estou bem bêbada (e qual é, você me conhece.
Sabe que sou fraca com bebida).
De qualquer forma, se acontecer, saiba o quanto você é importante.
Minha mente tá um caos, tô virando uma bomba relógio a ponto de explodir, sua obrigação moral é se afastar.
No mais, és um babaca.
Thaylla Ferreira Cavalcante

Incerta sou
De certeza tenho só a morte
Se vivo estou
Digo te, tenho sorte
Mas vai que desse sonho um dia eu acorde
Devo aproveitar
De Sul a norte
Pois sou sopro de chegada, mas também chama de partida
Sou encontro de alvorada e amanhecer de despedida
Sou um conjunto de filmes preferidos, de livros lidos
Sou tudo que sei, tudo que desejei.
Sou um verme que um dia foi astro e hoje vê se enterrado.
Sou estrela cadente caindo ao chão,
Sou ainda chama luminosa em meio à escuridão.
Vejo me em falsos reflexos estendidos em passagens que não podes ver,
Fui recompensa de méritos ao longo do destino que não pôdes entender.
A ti agora sou miragem,
Perco me na imensidão.
Sou o que teu coração chora por não compreender.
Sou a sorte de um amanhecer tão bonito,
Sou a certeza de um acordar tranquilo
Sou fogo queimando em meio ao nevoeiro
Sou a lágrima correndo em teu travesseiro
Eu sou Pandora de caixa trancada e segredos guardados
Sou de tantos, o ódio resguardado
Se fui amor, hoje sou ausência
E esta tua carência alimenta me cada dia mais
Sei que em minha partida só verei as lamúrias de meus pais e ninguém mais!
Meu legado não inspira
Não sigo a batida
Sou quem sou, não hei de mudar!
E até tu podes ver,
A compreensão é incerta
E apenas na hora certa tu vais saber a quem amar.
Teu erros te consolidarão,
Tuas vestes não mais te esconderão,
E saberás, como eu sei:
De certeza, só tens a morte
Se vivo estás, digo te, tens sorte
Thaylla Ferreira Cavalcante (Relicário de vocábulos vazios.)