Não há nada na vida que não seja nela também.
Para onde quer que se olhe, também, e também.
O dia que anoitece, existe; outra coisa além disso, existe; o unicórnio que não existe, existe.
Não há nada que não exista.
Virtual, abstrato, fantasioso, desconhecido ou inexistente.
Até a morte existe na vida, e ainda nela, o nada.
Costuma se pensar que a vida veio do nada, mas foi o nada que veio da vida.
Essa palavra, esse conceito, a própria afirmação de que a vida veio do nada, veio da vida.
É com a linguagem que se diz esse tipo de coisa.
E dizendo uma, não se diz outra; elimina se esta outra para se dizer uma.
Daí que para se dizer o nada se elimina a vida como se não a fosse.
Uma maçã, que não diz coisa alguma, existe, como o unicórnio, o nada e a tudo que existe também.
Mas a linguagem só existe quando se diz, e ao dizer maçã, a faz existir sob a condição do que excluiu para dizê la.
Assim, há uma oposição inconciliável entre a vida e a linguagem, porque a vida, em sua única verdade, se estende pelo que é também, enquanto que a linguagem também se estende, mas em sua única verdade.