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Thaylla Cavalcante

Havia um cansaço desconfortante nos músculos.
Os membros pesavam, estagnados.
O mundo girava diante dos globos oculares, falta de concentração, desconcertante procura pela fuga da realidade.
Era desnecessário todo aquele desamor, era penoso, doloroso, sofrido; era algo que nem mesmo as piores pessoas desejariam a seus ainda piores inimigos.
Ela chegou em casa por volta das 3:00.
Era tarde, frio e nem dentro de si havia fogo.
Tudo era ébrio, congelado e vazio.
Havia porém um pensamento, um único Ela adentrou o recinto, trombando dentre móveis e paredes, de mal subido, foi ao chão.
Seu rosto encontrou a face fria e opaca do chão.
A luz estava acesa e pôde se sentir todo aquele peso, cansaço e desconforto.
Quem passasse por perto, ainda que desconhecesse as causas, notaria a nítida sensação de morte presente naquele coração, naquelas mãos congelantes que agora tateavam o piso em busca de apoio.
Se até estranhos facilmente o perceberiam, o que explica o fato de os tão próximos nunca notarem
Seus pulsos estavam sempre recobertos por pulseiras, relógios e adornos, coisas que seriam desnecessárias se não houvesse algo à ser escondido, e havia.
Seus pulsos ardiam a cada nova investida das lâminas que o faziam ferver, e fervia, queimava.
Era penoso, mas necessário.
Naquela condição psicológica, surpreendente era que o suicídio ainda não houvesse ocorrido.
De fato, era inegável que em seus pensamentos, ao menos 5 vezes por dia, essas palavras aparecessem rondando as órbitas neurológicas.
Ela rastejou pelo chão, suas mãos tão pequenas e sem vida carregavam o peso de todo o resto do corpo.
Poderia se deixar vencer pelo cansaço, claro que podia.
Mas faltava tão pouco.
O arrependimento torturaria, ela se torturaria, seu corpo pagaria o preço Continuar ou se deixar vencer Continuou.
Desastrosamente, levantou se.
A boca jorrava sangue, que escorria pelos lábios e se perdia em meio ao preto das roupas.
O cabelo, desgrenhado, gritava por uma pausa, uma parada.
Algo tão necessário a todos estes seres terrenos, algo que ela se nega a dar a si.
Parar não estava nos planos.
Havia algo a se fazer, uma meta a se cumprir.
E ela continuou
Ao chegar ao quarto, viu se perdida em meio ao mundo de papéis e folhas amassadas, rasgadas e jogadas.
Desenhos, poemas, textos, prosas Eram autorais magníficos que ninguém jamais teria a chance de ver.
É inapropriado pensar no quanto foi perdido naquela noite
Todos foram postos juntos num canto escolhido a dedo, tão inofensivos Seriam provas, talvez pudessem continuar ali, quietos.
Talvez pudessem ser achados por alguém, talvez pudessem servir para algo, fazer a diferença.
Talvez, se não virassem cinzas em meio ao fogo.
Tudo, tudo virou fuligem.
Começou pela foto.
A nossa foto.
Você lembra Eu estava ali, coloquei fogo nos papéis.
Deitei na cama, completamente alcoolizada.
Vi o fogo tomar conta de tudo, senti seu cheiro invadir minhas narinas e respirei fundo 1, 2, 3 Vai passar, vai acabar A essa altura as chamas tomavam conta das persianas, dos quadros e das garrafas de vodka espalhadas, serviram de combustível e tudo aumentou.
Minha mente dizia me para levantar, meu coração dizia que continuasse ali, estática.
Meu corpo doía, estava cansado, sonolento, o fogo se tornou entediante.
Meu corpo pediu descanso, e foi o que fiz.
Fechei os olhos e descansei.
Longe de tudo, longe de você.
Virei fuligem, que no fim de tudo, esfriou.
Virei vazio, tornei me você.

Infeliz despedida.
A chuva castiga, o frio maltata.
Mas a solidão me aterriza, me faz manter os pés no chão, independentemente do que vier agora, é disso que preciso.
Meu celular está quase sem bateria, agora não saber teu número decorado bastaria, mas não basta, porque aprendi, assim como a aceitar tudo que vinha de você, aprendi a prever suas palavras, atitudes, seus passos.
Aprendi que você pisca rápido os olhos quando está nervoso, que dá um riso escandaloso quando está sendo sarcástico, que mexe no celular quando quer evitar contato visual, que a tua calma sempre esconde algo, que não deixa ninguém te ver por inteiro, que estraga qualquer iminente preocupação dos outros ao teu respeito e que morre engasgado com tudo que não diz, porque pra você, é sempre melhor mostrar que não se importa.
Mais cômodo, talvez, mas não melhor.
Não pra mim, nem pra você.
Toda essa comodidade juntou se a um contexto amplamente caótico de minha vida, que juntou com tua ausência, com nossas perspectivas abertamente opostas e com tudo que você projetava em mim.
Nós fomos dois covardes por aceitar sem lutar, logo a gente que sempre foi tão de luta
Meu relógio marca 3:00 da manhã.
Dizem que é a hora dos demônios, talvez seja, mas não dos meus.
Regularmente eles passeiam fora de hora por esses tantos caminhos tortuosos.
Daria meu rim por um cigarro agora, ou por qualquer droga que me anestesiasse e me mantivesse bem longe de tudo isso que eu não sei sentir.
Acho que quero beber.
Acho não, eu quero! Se bem que eu nunca consegui paciência! Horas de desespero (complete a frase).
Vou até a conveniência da esquina ver se encontro alguma coisa forte.
Voltei com o whisky mais vagabundo que encontrei.
Menos mal, o efeito vem mais rápido.
A atendente da loja me olhou com pena e eu até entendi.
Não consigo nem dizer qual das duas reações mais me impressionou.
Estou de jeans rasgados, manga longa, Havaianas e na chuva estranho seria se ela me achasse normal.
Acho que sou realmente muito exposta.
Tenho um cigarro entre os lábios, conduzindo o com meus dedos em V.
Que representativo, né O símbolo da paz, a paz que só tenho encontrado nessas circunstâncias.
Enfim, servi a primeira dose, tô analisando o copo a uns 15 minutos e meu estômago já tá se revirando.
Eu odeio beber, sempre odiei, mas é preciso.
Engoli tudo, e desceu queimando além do esperado.
Sinto minha garganta arder pela exposição, mas o efeito foi bom, até consegui te esquecer por uns minutos.
Acho que vou repetir, na verdade, acho que tenho por obrigação repetir isso.
Tomei mais alguns copos, sempre os batendo na mesa, e a cada novo golpe, ele se desgasta, mais e mais.
Acabou rachando, me veio à mente uma analogia bem interessante, algum palpite Uma dica, é bem clichê.
Acertou quem disse que é meu coração.
Mas a culpa é minha.
Bati o copo na mesa e insisti nessa droga de relação.
É compreensível estar nessa situação agora, a culpa é minha por não perceber o óbvio, mas quer saber Que se foda essa compostura infundada.
Um bom jazz está tocando em meu notebook, mas o som agora parece tão distante.
Já nem sei diferenciar o real do imaginário, a linha ficou tênue demais, parece uma corda bamba sobre a qual venho me equilibrando a um certo tempo, e agora eu caí.
A melhor parte foi quem estava lá pra me segurar, isso mesmo, ninguém.
Sinto tua falta, mas sinto falta das viagens de moto com meu pai, sinto falta do meu ex (presidente), sinto falta de muita coisa que nunca mais será minha, senti falta de escrever, e cá estou, bem como senti falta de fumar a um tempo (felizmente isso estava ao meu alcance).
Pra resumir e deixar desse mimimi, é, isso eu também vou superar, a gente vai.
Faço muito drama né Eu sei.
Mas não escrevi nada disso com a intenção de te mandar, então se acontecer, é porque já estou bem bêbada (e qual é, você me conhece.
Sabe que sou fraca com bebida).
De qualquer forma, se acontecer, saiba o quanto você é importante.
Minha mente tá um caos, tô virando uma bomba relógio a ponto de explodir, sua obrigação moral é se afastar.
No mais, és um babaca.
Thaylla Ferreira Cavalcante

Incerta sou
De certeza tenho só a morte
Se vivo estou
Digo te, tenho sorte
Mas vai que desse sonho um dia eu acorde
Devo aproveitar
De Sul a norte
Pois sou sopro de chegada, mas também chama de partida
Sou encontro de alvorada e amanhecer de despedida
Sou um conjunto de filmes preferidos, de livros lidos
Sou tudo que sei, tudo que desejei.
Sou um verme que um dia foi astro e hoje vê se enterrado.
Sou estrela cadente caindo ao chão,
Sou ainda chama luminosa em meio à escuridão.
Vejo me em falsos reflexos estendidos em passagens que não podes ver,
Fui recompensa de méritos ao longo do destino que não pôdes entender.
A ti agora sou miragem,
Perco me na imensidão.
Sou o que teu coração chora por não compreender.
Sou a sorte de um amanhecer tão bonito,
Sou a certeza de um acordar tranquilo
Sou fogo queimando em meio ao nevoeiro
Sou a lágrima correndo em teu travesseiro
Eu sou Pandora de caixa trancada e segredos guardados
Sou de tantos, o ódio resguardado
Se fui amor, hoje sou ausência
E esta tua carência alimenta me cada dia mais
Sei que em minha partida só verei as lamúrias de meus pais e ninguém mais!
Meu legado não inspira
Não sigo a batida
Sou quem sou, não hei de mudar!
E até tu podes ver,
A compreensão é incerta
E apenas na hora certa tu vais saber a quem amar.
Teu erros te consolidarão,
Tuas vestes não mais te esconderão,
E saberás, como eu sei:
De certeza, só tens a morte
Se vivo estás, digo te, tens sorte
Thaylla Ferreira Cavalcante (Relicário de vocábulos vazios.)