Quando resolvi fugir daquelas coisas torpes lá de fora não pensei que fosse tão fácil: na verdade foi tudo muito natural, como se um dia isso tivesse mesmo que acontecer, e exatamente dessa forma.
Não precisei fazer esforço algum.
Só deitar e esperar.
A princípio ainda classificava lembranças e memórias, tinha consciência de um antes, um durante, um depois, de um real e um irreal, um tangível e um intangível, um humano e um divino: separava minha memória e meus conhecimentos em partes cuidadosamente distintas.
Depois que ele começou a rondar minha janela, ou antes, não sei, tudo se confundiu num só bloco, e fiquei assim: esta massa compacta toda à superfície de si mesma.
Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo: raiz, caule, folhas e frutos.
Talvez eu esteja sendo gerado, não sei.
Sei que falta pouco.
Eu queria que não fosse assim, que não tivesse sido assim.
Mas não consegui evitar.
A semente recusava se a vir à tona, eu nem sempre tinha tempo ou vontade de regá la, e não chovia mais – foi isso que aconteceu.