( ) Eu te disse que estava cansado de cerzir aquela matéria gasta no fundo de mim, exausto de recobri la às vezes de veludo, outras de cetim, purpurina ou seda mas sabendo que no fundo permanecia aquela pobre estopa rasgada.
Perguntaste se o que me doía era a consciência.
Eu te disse que o que me doía era não conseguir aceitar minha pobreza.
E que eu não sabia até quando conseguiria disfarçar com outros panos aquele outro, puído e desbotado, e que eu precisava tecer todos os dias meus dias inteiros e inventar meus encontros e minhas alegrias e forjar esperas e me cercar de bruxos anjos profetas e que naquele momento eu achava que não conseguiria mais continuar tecendo inventos.( )
Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exatas.
E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.
Disseste de repente que precisavas ter os pés na terra, porque se começasses a voar como eu, todas as coisas estariam perdidas.