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Ana Jácomo

Avaliando o cansaço
Chega uma hora, uma bendita hora, em que acontece algo que, embora não aparente de imediato, pode ser a melhor notícia da temporada, a mais promissora, desde que não nos estreite os olhos, nem congele o coração: a gente se cansa.
De algumas coisas.
De um monte delas.
Das ilusões.
De se apertar pra caber em autoimagens que, na maioria das vezes, não têm nada a ver com a gente.
Cansa de ficar à mercê da felicidade que parece acontecer só de fora pra dentro.
Nem todo cansaço é ruim.
Há cansaço que destranca.
Há cansaço que liberta.
Há cansaço que é quase descanso, um pouquinho só dali.
Há cansaço que é lume, depois de tanto suposto incansável breu.
Há cansaço que cria espaço para harmonizarmos nossos passos com o caminho da nossa alma outra vez, o ego momentaneamente vencido.
Há cansaço que sorri para as nossas dores, conhecedor da mágica capaz de fazê las afrouxar: soltar.
Nem todo cansaço é ruim.
Há cansaço que cria intervalos preciosos, férteis de transformação.
Há cansaço que nos torna mais parecidos com nós mesmos, de novo ou pela primeira vez, e mais próximos do lugar em nós onde pulsa o que nunca se cansa.
Há cansaço que nos leva ao instante, em que, exaustos, reverenciamos a vida e dizemos para ela mais ou menos assim:
Entrego o meu cansaço, farta de perceber que, por mais que eu tente, não tenho controle com relação a tudo àquilo que, de verdade, importa.
Eu me rendo à sua sabedoria, que me habita, embora tantas vezes eu esqueça.
Por favor, me ensina a simplesmente fluir com você.
Por favor, me ensina a simplesmente fazer florir as sementes que você me confia.
Por favor, me ensina a simplesmente ser.
De preferência, sem muito cansaço.