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Alessandro Lo Bianco

A gente sofre nessa vida em nossa busca solitária pelos nossos sonhos.
As vezes nos sentimos culpados e "adúlteros" com nós mesmos quando insistimos em virar a cara para os pensamentos que tentam nos desestimular diariamente.
Parece que estamos mesmo sendo colocados à prova todos os dias.
Sentimos, por vezes, uma barreira entre nós, face ao que fomos, somos ou ainda poderemos ser, e os outros.
Por vezes somos vítimas de um efeito psicossomático que perturba essa busca que empreendemos mais por vício de nos tornarmos alguma coisa do que por necessidade.
Tentamos, inutilmente, afastar lembranças nessa busca, mas, o que conseguimos, muitas vezes, é uma satisfação incompleta.
E, por isso, vamos vivendo desinteressados, ocos, indiferentes.
Quase vazios de sentimentos, ante a maldade que o destino faz com a maioria de nós, pelo acaso.
Muitas vezes, tudo o que queremos é não olhar, não ter que olhar para o futuro, viver sem precisar se abastecer de qualquer estímulo para tanto.
Aí, quando chegamos nesse ponto, começamos a ruminar o passado e isto passa a constituir o nosso presente.
Você espera em Deus, ou qualquer coisa ligada a alguma crença pessoal, que algo encontre por você.
E passa a esperar.
Essa busca, pressentimos, é muito difícil e sofrida, dada a nossa falta de fé, ou até mesmo ao excesso dela, que faz a gente insistir nas coisas.
E aí, até esse dia chegar, sem saber se irá chegar, ficamos numa espécie de oração, rezando, ou como qualquer um pode chamar este processo, confiante em que essas orações cheguem até algum "Deus" e o pior, sem que ele leve em conta os pecados que cada um de nós carrega nas costas.
É a vida.

Sentado aqui na minha varanda, sozinho, olhando as luzes de tantas janelas em tantos prédios, e já na segunda taça de vinho, penso que a felicidade é uma palavra de difícil qualificação Comparada com uma cor, certamente teria várias nuanças.
Pode significar o estado de um ser ditoso, contente, alegre, de sorte, enfim, um indivíduo satisfeito com a vida por vários motivos.
E, nesta variedade de motivos, cabem várias reflexões.
Sem dúvida, a felicidade é um estado de espírito e, por isso, muito pessoal e variável.
De modo que a razão da felicidade de um, pode ser por outro ângulo, ainda que contrariamente, a razão da felicidade de outro.
Exemplo: o portador da boa saúde, forte, belo, econômica e financeiramente bem, é feliz por estas circunstâncias; outro, doente, feio, fraco e pobre, por motivos de crença kardecista, pode se sentir satisfeito e feliz, por admitir pelo que crê, que ao reencarnar ele mesmo escolheu uma vida de sacrifícios, para purgar erros e faltas cometidas em vidas anteriores e, com isso, atingir a perfeição espiritual, para ele mais valiosa que tudo.
É feliz por isso.
Um outro católico praticamente por viver bem e agraciado por pedir e receber dádivas celestiais que lhe são proporcionadas por seu deus e seus santos de devoção, vive deitado no armarinho da gratidão e felicidade; outro, da mesma crença, levando vida de cão, sofrendo agruras; julga se, também, conformado e feliz por considerar que tudo que sofre é um desígnio da divina providência e como tal deve entender como justo e aceita conformado e até agradecido.
É feliz também a seu modo.
Em outras palavras, o que é ótimo para uns pode ser ainda que em sentido completamente oposto, também aceitável para outro.
Uma espécie de felicidade pelo avesso.
O interessante é que este estado de espírito pode ser sentido, em certas circunstâncias, por uma coletividade inteira, ora sob o aspecto positivo, ora sob o aspecto negativo.
Assim, a chuva diluvial que atingiu inúmeras vezes o Rio de Janeiro e, principalmente a Região Serrana, destruindo barracos nos morros e atingindo, também bairros elegantes da zona sul do rio; essa chuva que levou um prefeito a apelar para oração para que não mais chovesse, pois não tinha meios para socorrer os desabrigados, é, sob outro aspecto, a mesma chuva salvadora de vidas em todo o Rio, que poderá salvar os reservatórios, mais uma vez que, sob um terceiro aspecto, vivemos há décadas dos eternos políticos que assentam as nádegas nas cadeiras do congresso.
O furacão que arrasta cidades, derruba torres, afunda barcos e mata muita gente nos EUA, considerado dos mais adiantados locais de progresso do mundo é o mesmo vento forte que no Saara, com o nome de Simum, refresca a atmosfera tórrida do Norte da África, estendendo sopro quente através do Mediterrâneo, temperando o clima de todo sul da Europa, considerado o ideal para o turismo da região.
Como se vê, a felicidade não é facilmente definível.
Tudo depende das circunstâncias.
Enfim, as luzes acesas de cada janela desses prédios, tão distantes, continuam iluminando o que estou vendo agora.
Tim Tim.