O dia e a noite
A Lua e o Sol
A água e o vento
Se vão sucedendo
Momento a momento
Há instantes, sem a mínima importância
Que às vezes levam dias pra passar
Nesta solidão sem trégua
O silêncio se dirige a mim
e novamente declama
a mesma sentença
à qual me submete há tanto tempo
Eu não sei se ele ou eu
um dos dois se perdeu
E tudo que ficou pra nós
lembranças
tristes recordações
daquele tempo insano
em que cada um passava os dias
exercendo egoísmo e pensando
Em seu mundo, tão pequeno.
Que não fazia, em absoluto
Parte integrante de algo
maior e nem melhor
Antes
Estava somente acima
Agora, dia e noite se sucedem
E eu ainda os vejo se apinhando
Mutuamente se odiando
e se digladiando a todo momento
aquele tempo tão triste
não se foi; está bem aqui e ainda existe
Elas se matando
Por um lugar num banco de Igreja
Eles prometendo vingança
Por causa de um pouco de cerveja
Gente de caráter irrepreensível
Se esconde, ao final do dia
No local reservado aos que desceram
ao pior e mais baixo nível
E como porcos, fuçam a lama
buscando pela prata que esconderam
Dos chacais que a desejavam
Eu ainda os vejo
caminharem lado a lado
sem se exasperar
O dia passa, a noite passa
Este mundo se tornou pra mim
Um teatro, onde se exibe
Uma ópera farsesca
surrada e um tanto sem graça
A ópera chamada Vida
A mesma que deveria
Pura e simplesmente ser
A grande graça recebida.