Natally D'Andréa

Meu Sagrado
No passar dos dias e nas dificuldades da vida eu sinto uma presença, e nas horas mais felizes eu o reverencio.
Eu o sinto no meu andar, no meu jeito de levar a vida, nos pensamentos e na hora da raiva.
Sinto como se meu orí estivesse protegido, e então recai sob mim sua divina sabedoria.
Me clareia o pensamento e alivia meu caminhar.
É inegável nossa ligação
Ora o carrego no peito a mostra portando seu fio com suas cores, no punho direito sua ferramenta de corte duplo, representando o equilíbrio e a justiça
Quando piso em sua casa, me despido do material e meu corpo e minha mente são do sagrado
Quando os atabaques tocam o som que ecoa por toda casa, me faz arrepiar
E na fala do Ogã é anunciado sua chegada:
Àwa dúpé ó oba dodé
A dúpé ó oba dodé
Nos cânticos de Shangô sinto meu corpo leve, e passado alguns minutos o som começa a entrar em vácuo, ficam cada vez mais suaves, posso sentir sua presença.
Ele está chegando
E quando meu corpo não obedece mais minhas ordens, sei que ele está a me conduzir, e juntos em perfeita sintonia dançamos suas histórias, lutamos suas lutas e gritamos o seu grito.
A presença de Shangô contagia o ambiente e alegra meu coração por servir de instrumento nesta hora sagrada.
Ele é dono de meus caminhos, o patrono de meu destino
É ele quem escolheu meu orí, e é a ele quem devo minha vida e dedico meus dias
Não tenho vergonha de mostrar para o mundo o que me faz bem
Carrego em meu peito toda esperança e fé de um povo que sofre perseguição
Carrego meu sagrado, minha ancestralidade
Shangô é meu pai
Candomblé é minha cultura, minha crença, minha religião.
E assim as historias se cruzam, comemoramos juntos suas vitórias e juntos lutamos as minhas guerras.

Aquele Café de Agosto
Mês de agosto é sim o mês do desgosto, e também o mês de grandes perdas e decepções, neste mês ela pode sentir o amargo da vida em uma xícara de café mal coado em uma quinta feira do mês de agosto.
“Ela” mal podia se conter com a ansiedade do fim daquele mês, e daquele ano.
Mesmo amargurada e triste seguia observando o mundo sem sair de sua casa, pensará que a vida era mesmo difícil mas tentava manter se com fé em relação a boas mudanças futuras.
Certo dia ecoou um som de batidas em seguida de um grito estridente e forte, este grito saia de si e tomada por tal energia adormeceu alguns minutos, ou talvez horas, de toda forma não havia como ter certeza, mas algo naquele dia despertou a esperança e o desejo de continuar a lutar, a fé se renovou.
E ao entardecer uma nova xicara de café foi oferecida, mas desta vez o café estava no ponto, forte e levemente adocicado, mas não à deixará mais amarga.
E no sopro da fumaça de um cigarro esvaneceu se tudo e apareceu os desejos de um novo recomeço.