Nada
Nesta vida ou neste mundo
Nos pertence
Apesar de tudo que fazes
Ou que sabes
O sapato apertado
A alegria que não te cabe
Cada dia cada segundo
Os olhos inchados de tristeza
A promessa vazia
A gula engolida
A ira, orgulho, a vingança
Voz desafinada
Os passos errados
Na dança do dia a dia
Melodia do tempo
A travessa de salada
Cada passo apressado
A cara amassada de tanto descanso
Nem mesmo o descaso
Que usam pra te afligir.
Eu, quando em criança
Vencia a corrida
E pensava que os pés eram meus
Cada ordenado recebido
Por cada trabalho malfeito
Eu fazia de conta que era meu
Assim como tudo na vida
Cada elogio, sincero ou fingido
Que eu hoje em dia não mais eu espero
Por cada poema mal escrito
Seja ele feio ou bonito
Eu pensava ou fazia de conta
Que eram meus ou pra mim
Assim como cada coisa errada
E cada coisa na qual eu não quero pensar
Cada marca de pés sujos
deixados ao longe na estrada
A comida que ficou salgada
Cada culpa atribuida
A palavra que não foi escrita
As contas que não davam certo
Nas lousas da infância
Nas coisas da vida
A pedra que não alcançou a vidraça
Na verdade não passou nem perto
E agora eu não sei
Se foi erro
ou se errar
foi o certo
Cada mentira mal contada, que a mãe descobria
E a dor das chineladas que levei da vida
Agora eu sei
Somente as dores e as risadas são da gente
Não se leva culpa
Nem talento
A vida é uma mera ilusão
Arrastada no vento
Um dia você olha tudo isso
E fica feliz ou se arrepende
O mundo ensina coisas
Lições que jamais se aprende
Mas um dia ouve tocar
O sinal de saida
E percebe, no apagar das luzes
Que da vida
Não se leva nada.
Edson Ricardo Paiva.