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Priscila A. Oliveira

Encontrava me exausta.
Tudo até então não havia passado de uma longa caminhada.
Percorri por muito tempo estradas estreitas e escuras até bater à sua porta.
Trazia nos pés as feridas resultantes de cada tropeço e, na face, os sinais provocados por cada decepção que cruzou meu caminho.
Você, mais por descuido que por compaixão, ofereceu me abrigo.
Acolheu me, alimentou me, matou minha sede e tratou minhas feridas, deixando que eu dormisse ao seu lado.
E eu, pouco a pouco, mais por descuido que por inocência, comecei a acreditar que finalmente havia encontrado a minha pousada.
Atrevi me a desfazer as malas, repousando em suas prateleiras tudo que acumulei ao longo da jornada:
Cada dor, cada mágoa, cada lágrima, cada objetivo não concretizado
E ousei sorrir
Os pés, já sem feridas, ousaram dançar, plenamente realizados por caminharem ao seu lado.
Aproveitei me dos dias mornos, banhados numa felicidade efêmera, dando me o direito de sonhar.
Mas um dia, ao acordar, pude ver num canto do quarto minhas malas feitas, e pelo zíper entreaberto notei que nelas você havia colocado, meio sem cuidado, tudo aquilo que estava nas prateleiras
Mas, engraçado, as malas pareciam bem mais cheias do que antes!
Me fez calçar novamente os sapatos e os pés reconheceram imediatamente cada uma das antigas bolhas.
Despediu se de mim com um beijo na testa, indicando me a porta da rua.
E eu, mais uma vez, pus me a caminhar, aceitando o destino que não pude escolher.
Chovia muito.
As alças das malas de outrora, muitíssimo mais pesadas agora, pareciam querer cortar me as mãos.
Olhei pra trás, na esperança de encontrá lo na soleira, vendo me partir e me afastar ao longe,
Mas a porta da sua casa, fria e imóvel, já estava fechada