Vida
Nem de ouro, muito menos de prata.
Nem de madeira, nem de lata.
Nascido no lodo, gerando perolas.
Não sou pássaro, mas fiz revoadas.
Nunca desejei o mar, apenas o riacho.
Fui rosa e espinhos.
Bebi chuvas, afoguei orvalhos.
Chorei e aprendi enxugar lágrimas.
Errei caminhos.
Perdi atalhos.
Fui gato no telhado
E cão vira lata no mato.
Já fui pedra.
Já fui sapato.
Já tropecei
No meio fio errado.
Doei e não recebi.
Recebi e não doei.
Amei e não fui amado
Amado, não amei.
Vi o sol nascer.
E a noite chegar.
Vi estremecer o luar.
E o sol não esquentar.
Sonhei ser sinfonia,
Acabei canção.
Sonhei ser dia,
Achei a solidão.
Sem querer, na vida,
Encontrei a estrada.
Sem querer viver,
Trilhei esta jornada.
Hoje sou folha levada,
Sou onda na praia,
Sou poeira na estrada,
Sou o rio que deságua.
Terminar sem ouro,
Ignorando a prata,
Sentir se realizar.
Cumprida a jornada