Querida Terezinha,
quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nas pessoas ao nosso redor E ir deslizando pelos pequenos detalhes, na beleza não manifesta e, ao mesmo tempo, ofuscante Quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nos olhos do outro, sem qualquer pressa, sem procurar ali dentro o próprio reflexo Foi esses dias, eu aninhei as mãos de minha avó por dentro das minhas, encostando o meu rosto em seus dedos tão frios, como se ela tivesse acabado de nascer em seu corpinho já envergado pelo tempo e marcado pelos dias Naquele segundo, eu entendi que nada era mais urgente, nem mais importante, do que ouvir a minha avó reaprendendo a falar E que eu sequer começaria a ver alguém – além de mim mesma – se não pudesse enxergar as pessoas para as quais olhei a vida inteira.