RELEVO SENTIMENTAL
Às vezes, sou um abismo tão profundo,
Que, ao olhar para dentro de mim,
Sinto vertigem – caindo me nas entranhas do mundo.
Às vezes, sou uma planície tão extensa,
Que, ao olhar para dentro de mim,
Perco me num horizonte vago – sem fim.
Às vezes, sou um deserto tão escaldante,
Que, ao olhar para dentro de mim,
Não sei se paro ou sigo adiante.
Às vezes, sou um planalto tão irregular,
Que, ao olhar para dentro de mim,
Embrenho me em depressões cheias de espinhos e cipoal,
Cercadas de montanhas difíceis de escalar.
No mais das vezes, apraz me ser este relevo,
Pois, ao olhar para dentro de mim,
Sou nova paisagem a cada dia,
Não conheço monotonia:
Se hoje sou depressão;
Amanhã, sou majestosa montanha,
Com meu olhar otimista,
Olhando o mundo a perder de vista;
Depois de amanhã, sou verdejante colina.
Com flores, pássaros e rios de água cristalina –,
Sou vida que não conhece rotina.