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Clara Furtado

E, com o passar do tempo, com a calmaria, tendo esquecido algumas lições, sabia que algo não estava totalmente certo.
Então, foi lá, leu antigas anotações no seu diário de bordo e viu tudo o que estava vago na lembrança, o que a fez forte, o escudo que conquistou, o campo de força que se formou, a blindagem que ganhou, a barreira que construiu com cada tropeço, escorrego, cada queda e arranhão, cada machucado e cicatriz, cada iceberg, quando muito frio, cada monstro do mar enfrentado em águas intranquilas e, embora exalando sentimentos, paixão e sensibilidade, flutuando serena e docemente, entendeu novamente que lições são grandes ondas de crescimento e que jamais devem ser esquecidas, compreendeu de novo que, mesmo em marés tranquilas, o modo como lidar e vencer tempestades nunca deve ser deixado de lado, percebeu mais ainda que vencer águas turbulentas é mérito, é força, mas que não é agradável e que é preferível aproveitar os dias calmos, navegar em águas brandas, mas sempre pronta, porque só o tempo que segue é constante, o tempo que paira em nossas vidas sempre pode mudar de novo a qualquer momento, de manso a agitado ou de bravo a sossegado.
Ela enxergou, outra vez, que velejar em espelhos d'água é bom, é leve e é tranquilo, é preferível, mas que o que muito a fez quem é, ferozmente, até mesmo mais que a própria bonança, foi a força necessária nas tempestades da vida, soube também, mais uma vez, que o que a fez forte no velejar foi ter dentro de si a ideia de que não há tempo ruim, o que existem são tempos propícios para se manejar bem esse barco de vida nesse mar de vida.
Então, tendo lido alguns poucos capítulos, sendo sempre a mesma, voltou a ser ela mesma, aproveitando o tempo todo e da melhor forma possível o sol, a brisa e todo o bom tempo, sem deixar que ele a engane, sabendo que mesmo em mar calmo, depende do marinheiro conduzir bem o barco e que regras da tempestade também podem e devem se aplicar na calmaria.
Em frente, enfrente.
Sempre a velejar, constantemente a aprender e relembrar antigas e eficientes técnicas de navegação.

Acho que Amor à primeira vista não existe, é tão somente uma ilusão que as pessoas criam em cima da necessidade de amar e do medo da solidão.
Respeito a parte que discorda, mas se houver praticidade e racionalidade, indispensáveis no Amor que é inteligente, no máximo, o que ocorre à primeira vista é atração ou uma espécie de intuição que aquele alguém será de alguma forma especial, afinal, não tem como amar quem não conhecemos ao certo e só saberemos se aquilo tudo é aquilo tudo mesmo se entramos de cabeça para constatar, aliás, arriscar, porque é um risco.
Cabe a cada um apostar na intuição e pagar para ver ou não encarar a probabilidade de erro.
Aprende se a amar a partir de quando conhece se qualidades e defeitos de alguém e de quando entendemos o mesmo vindo deste alguém.
Ama se primeiro pela admiração e ela vem dessas qualidades que reconhecemos e admiramos e desses defeitos que enxergamos e aprendemos a lidar e isso só pode acontecer apenas a partir de algum conhecimento que se tenha desse 'quem' que despertou logo de cara a atenção, possível só com o mínimo de convivência.
Só a partir daí que tudo aparece, nasce; Sente se saudade das manias, do cheiro, do toque, do beijo e do abraço, da presença física, mesmo não saindo do pensamento e coração, medo de perder, alegria de estar perto, vontade de cuidar, zelar e não falhar, respeito puro.
Não se têm dúvidas de que o Amor é o Amor quando na alma desperta se o desejo de gerar vida quando nunca tínhamos sentindo ou há muito tínhamos esquecido ou desacreditado, quando nos pegamos pensando que até vive sem aquele alguém, mas sabe que não quer, porque o peso da ausência até passa, pela independência entre pessoas que se deve existir, mas a tristeza dessa mesma ausência será tão certa quanto o Amor que se sente na hora.
Pele e química são fundamentais, mas em primeiro lugar e antes de qualquer coisa vem a admiração, que é de onde nascem o respeito e a estrutura real do Amor e possibilidade que este dure a eternidade, até enquanto dure.