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Martha Medeiros

O corpo reage ao coração ou reage à mente
08/05/09
Estou tão cansada.
Quase não tenho força.
Hoje estou naqueles dias em que dá vontade de dormir e acordar dez anos depois.
Você já ouviu falar em sono reparador Queria dormir e acordar dez anos mais linda e dez anos mais burra.
Interessa a você saber que estou apaixonada
Impressionante como essa palavra acorda os outros.
Eu estou apaixonada, mas não é por uma pessoa.
Estou apaixonada pela lembrança de algo leve, solto e rápido, como uma bola de gás que escapa da nossa mão e passa a ficar cada vez menor e mais distante.
Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirado, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas.
Quem está no comando dentro de nós Andei flertando com o perigo e no entanto o perigo estava dentro de mim, dentro desse coração que empacou nos 15 anos, aquela época em que eu era uma velha e acreditava no amor.
Toda mulher romântica é uma idosa.
Não acredito que eu tenha caído nessa cilada, me apaixonar por uma situação.
Por que não estou apaixonada por alguém, estou apaixonada por algo.
Algo completamente inatingível.
Estou apaixonada por marcar encontros, por receber mensagens safadas, emails, por estacionar olhando pros lados, temendo ser reconhecida.
Apaixonada por entrar no apartamento de um estranho, por tirar a roupa, por gozar com um estranho.
Apaixonada por aquilo que inspira os filmes B e os romances vendidos em banca.
Quem está no comando, me diga É claro que ele tem rosto, nome e sobrenome.
Mas isolado, longe do cenário, ele não me comove.
Ele me comove acionando em mim a outra, aquela que só deixo sair da casca de vez em quando.
Ele é o xerife que dá liberdade condicional ao meu lado fora da lei.
Se o xerife desiste da brincadeira, ela precisa voltar pra sua prisão domiciliar.
Não me venha falar de outros namorados, não me interessa uma transferência imediata, seria simplista demais.
Quero o circo todo a que tenho direito: sedução, fantasia, tempo.
Quero um romance longo, quero intimidade.
Fazer cena de ciúme, terminar, voltar, amar, brigar de novo, telefonar, pedir desculpas, retornar.
Amantes bem comportadas são um tédio.
Se eu estivesse no comando, pinçaria do meu caderninho meia dúzia de frases que liquidariam a questão.
"Foi bom enquanto durou".
"O destino sabe o que faz".
"Tudo tem seu preço".
"O show deve continuar".
Este tipo de clichê.
Mas quem está no comando é ela, a que não quer voltar pra cela.
Rebelião no presídio feminino: ela fugiu do meu controle.
Ela é romântica como uma adolescente.
Visceral.
Caótica.
Ela chora como uma menininha.
Cria diálogos tão convincentes durante suas madrugadas insones que chega a acreditar que eles aconteceram.
Viajandona.
Doce.
Áspera.
Virginal.
Ela me enlouquece.
Ela determina a hora de voltar pra casa, e eu aguardo por ela com uma ansiedade quase sexual.
Quem está apaixonada Ela por ele Eu por ela Ou tudo não passa de um sentimento solto, sem dono, caçoando de todos nós

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.