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Fabrício Carpinejar

Dane se a fila
O que sou não deve ser regra de convivência.
O que sou morre comigo.
Descobri que amar não é fazer com que o outro siga meu ritmo insano.
Isso é ditadura.
Amar não é puxar a namorada para o nosso fôlego, não é arrancá la de seu temperamento e forçar semelhanças.
Isso é indiferença.
Amar não é punir atrasos e castigar descompassos.
Isso é tortura.
Amar não é ameaçar com frases egoístas como “A fila anda”.
É o contrário: é perder o lugar na fila, é ceder seu lugar na fila, é regressar ao início da fila.
Amar é estranhamente recuar.
É encurtar as pernas para melhor passear, alongar os braços para melhor entrelaçar os dedos.
O apaixonado não impõe seu temperamento, acostuma se a caminhar diferente, olhando ao lado.
O lado passa a ser a nossa frente.
Quem nos ladeia é o nosso horizonte.
Surgirá um contratempo de sua companhia, uma dificuldade inesperada e se verá contrariando seus planos para ajudar – só tem pressa quem não tem urgência.
Amar é proteger mais do que avançar, é cuidar mais do que atingir objetivos, é apoiar mais do que se vangloriar da distância.
Foi a minha avó Mafalda que me explicou.
Ficava muito irritado pelo seu trotear na Rua Corte Real.
Era velhinha, manca e, além de tudo, distraída.
Ela me obrigava a
participar de sua andança fisioterápica depois do almoço.
Um quarteirão correspondia a queimar calorias de quatro quilômetros.
– Meu neto, é bom acompanhar um familiar doente, pois amar é ir aos poucos, é lentidão por fora e interesse por dentro – ela dizia.
Não fazia lógica para mim.
Amar parecia voar, correr, atropelar.
Amar significava velocidade, superação, afoiteza.
Amar traduzia liberdade, transgressão, não se
intimidar com os limites.
Eu me enganei, vó.
Seu andar miúdo, pequeno, de bengala, pesando cada pé no chão, me ofereceu uma aula emocional.
Nenhum casal corre de mãos dadas.
Amar é aguardar se necessário, voltar atrás se preciso, criar um novo passo para atender os dois.
Se fui apressado para conquistar minha mulher, agora devo ser lento, estar com ela é meu destino.

A vingança encharca a literatura e a música, mas seus mistérios jamais serão esgotados.
Vingança é uma arte, o refinamento da carência.
Quem procura se vingar do ex ou da ex, na verdade, não cansou de brigar.
Não terminou de argumentar.
Vingança é discutir o relacionamento sozinho, é discutir o relacionamento à distância, é dedicar o dia inteiro, às vezes a vida inteira, a arquitetar uma forma de chamar a atenção do amante que negou o ouvido.
O luto é destinado aos que amam amar.
Vinga se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando.
É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor.
A união de dois terrorismos.
Vinga se aquele que acredita que deu mais do que recebeu e que se enxerga ludibriado.
Aquele que, durante a relação, cobrava em segredo tudo o que oferecia, listava presentes e gestos.
A vingança é o juízo final do avarento amoroso.
Indica também prepotência.
O vingador se enxerga superior ao vingado, mais experiente e sábio.
Acha que está ensinando seu antigo par.
Encarna a figura de professor repreendendo o erro do aluno.
Assim como não sofre em vão, somente se humilha para humilhar o outro.
Todo sofrimento é arrogante, debitado na conta do desafeto.
O vingador cobiça a última palavra pois não aceita que alguém pense o pior dele.
Planeja castigar as supostas distorções e intimidar as possíveis confissões de sua intimidade.
O vingador vive por hipóteses.
Não entendeu que a última palavra não existe, é uma desculpa para mandar.
A vingança é o mais paradoxal dos atos: um sentimento inteligente em mãos burras e desgovernadas; uma pressa que exige longa paciência e dissimulação.
Requer as mais contraditórias atitudes: sangue frio de alguém com sangue quente; calar se apesar da exagerada vontade de falar.
A vingança fracassa pela ânsia de fama do seu autor.
Quem busca se vingar pretende que o outro saiba que foi ele, que não tenha nenhuma dúvida.
Deseja dar o troco beijando a boca, olhando nos olhos.
Conclui que não adianta nada uma vingança sem remetente.
E peca pela ambição, erra ao se expor, porque a represália aguda e exitosa esconde o criminoso para a perfeição do crime; deve ser anônima, gerando a desconfiança, mas não entregando totalmente o seu mentor.
Não conheço vingança perfeita.
Não se vingar talvez seja a melhor vingança.
Fazer esperar uma resposta que nunca virá.