DESABAFO DE UM PASSARINHO
Oh, inculta Coruja, ave de rapina,
Nascida em luto parto doloroso
Para saudar te ave da escuridão
Esgalhou se o canto tenebroso
Dos vitrais estilhaçados ao chão.
Oh, triste sina tua vir ao mundo
Com alma cinza, sem esperança
Teu trilar em noites sem estrelas
São apenas blasfêmias, murmúrios
Chorados pelo nascer da aurora.
Saibas a cegueira que te ofusca
Das luzes, risos e primaveras,
É a mesma que sorve da lama
O horror de tuas dores severas:
Espinhos mortos em chama!
No cárcere das plumas imundas
Da fina neblina que te vestes
Cobres em vão, farsas bramidas:
Mágoas e desilusões reprimidas
No deserto de teus fracassos!
Por que, oh triste rasga mortalha,
Teimas cuspir tua cicuta amarga
Nas águas dos rios que tu bebes
Por que aprisionas na clausura fria
Turíbulos de flores, germes alegrias
Abre te ao mundo feito girassóis
Lanças te aos crisântemos da vida
Deixa te entrar a luz, florescer paz!
Pintas em arco íris os lírios de risos
No mosaico dourado que te cerca!
Afasta te do vil e ridente anjo caído,
Da podridão mentirosa e desmedida
Da ignorância traidora que te vela!
Deixa te chover flores de estrelas,
E, ao partires, a saudade te saudará
in, Girassóis (di)versos, e outras flores 2016