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Alessandro Lo Bianco

Das crianças agora comecei a ter contato com uma figurassa.
O filho de 4 anos do síndico do meu prédio, o Gabriel, que vai jogar bola numa parte do terraço que é colada na minha varanda.
É o filho do meio de uma família bem situada na sociedade e, como natural, muito mimado pelos pais e um outro irmão.
Goza de perfeita saúde e leva uma vida normal das crianças da sua idade.
Está sempre aqui no terraço brincando sozinho, jogando bola, tentando, pelo o quê eu escuto, imitar os craques da seleção.
Aí começo a me identificar com ele.
Como eu, ele também é, pelo que percebo, controlado por uma necessidade de fazer gol que lhe acompanha, diariamente, até o momento de dormir.
Como eu fui um dia, apesar do carinho dos pais e do irmão mais velho, deve se sentir sozinho nos períodos escolares, sem parceiros para as traquinadas da idade.
A não ser nos dias de domingo, quando reparo que o levam para uma vila aqui atrás, onde ganha a rua para brincar com alguns garotos da sua idade, mas jamais afastando se do local.
Cópia do que eu fui, também ele joga sua bola imaginando dribles impossíveis e gols inimagináveis dos craques de hoje.
Aí que entra a questão, quando ele dá um gritinho Vai "NIUMÂ" (Neymar) e a bola cai aqui na minha varanda hahaha.
Como os chutes estão frequentes nos finais de semana, ele já me chama na intimidade, com uma ousadia impressionante: "XIÔÔ (tio), "QUÉ" PANHÁ BÓIA".
E lá vou eu devolver a bola para que o jogo não pare por incompetência do gandula.
E daí, talvez, a gratidão manifestada pelos cumprimentos e acenos de mão com que me agracia ao passar por mim agora na portaria.
Tentando avaliar o peso da cruz que cada um carrega e, sobretudo, vendo o Gabriel, nos finais de semana me posicionando como gandula na varanda, e nunca deixando de me cumprimentar ao me encontrar na portaria ou na rua, espero que ele possa crescer sem encontrar maiores obstáculos no mundo cão em que vivemos, e que este século que ele irá enfrentar adulto seja menos violento e ofereça às pessoas maiores possibilidades de realização dos sonhos de vida.
Sinceramente é o que eu desejo ao meu "amigo" Gabriel

Sentado aqui na minha varanda, sozinho, olhando as luzes de tantas janelas em tantos prédios, e já na segunda taça de vinho, penso que a felicidade é uma palavra de difícil qualificação Comparada com uma cor, certamente teria várias nuanças.
Pode significar o estado de um ser ditoso, contente, alegre, de sorte, enfim, um indivíduo satisfeito com a vida por vários motivos.
E, nesta variedade de motivos, cabem várias reflexões.
Sem dúvida, a felicidade é um estado de espírito e, por isso, muito pessoal e variável.
De modo que a razão da felicidade de um, pode ser por outro ângulo, ainda que contrariamente, a razão da felicidade de outro.
Exemplo: o portador da boa saúde, forte, belo, econômica e financeiramente bem, é feliz por estas circunstâncias; outro, doente, feio, fraco e pobre, por motivos de crença kardecista, pode se sentir satisfeito e feliz, por admitir pelo que crê, que ao reencarnar ele mesmo escolheu uma vida de sacrifícios, para purgar erros e faltas cometidas em vidas anteriores e, com isso, atingir a perfeição espiritual, para ele mais valiosa que tudo.
É feliz por isso.
Um outro católico praticamente por viver bem e agraciado por pedir e receber dádivas celestiais que lhe são proporcionadas por seu deus e seus santos de devoção, vive deitado no armarinho da gratidão e felicidade; outro, da mesma crença, levando vida de cão, sofrendo agruras; julga se, também, conformado e feliz por considerar que tudo que sofre é um desígnio da divina providência e como tal deve entender como justo e aceita conformado e até agradecido.
É feliz também a seu modo.
Em outras palavras, o que é ótimo para uns pode ser ainda que em sentido completamente oposto, também aceitável para outro.
Uma espécie de felicidade pelo avesso.
O interessante é que este estado de espírito pode ser sentido, em certas circunstâncias, por uma coletividade inteira, ora sob o aspecto positivo, ora sob o aspecto negativo.
Assim, a chuva diluvial que atingiu inúmeras vezes o Rio de Janeiro e, principalmente a Região Serrana, destruindo barracos nos morros e atingindo, também bairros elegantes da zona sul do rio; essa chuva que levou um prefeito a apelar para oração para que não mais chovesse, pois não tinha meios para socorrer os desabrigados, é, sob outro aspecto, a mesma chuva salvadora de vidas em todo o Rio, que poderá salvar os reservatórios, mais uma vez que, sob um terceiro aspecto, vivemos há décadas dos eternos políticos que assentam as nádegas nas cadeiras do congresso.
O furacão que arrasta cidades, derruba torres, afunda barcos e mata muita gente nos EUA, considerado dos mais adiantados locais de progresso do mundo é o mesmo vento forte que no Saara, com o nome de Simum, refresca a atmosfera tórrida do Norte da África, estendendo sopro quente através do Mediterrâneo, temperando o clima de todo sul da Europa, considerado o ideal para o turismo da região.
Como se vê, a felicidade não é facilmente definível.
Tudo depende das circunstâncias.
Enfim, as luzes acesas de cada janela desses prédios, tão distantes, continuam iluminando o que estou vendo agora.
Tim Tim.