É intensa a vida de quem corre na chuva, sem desviar das poças d'água.
É imprevisível, a vida de quem caminha sem medo de escorregar, de olhos fixos no horizonte, desatento às pedras no chão.
Os tombos viram cicatrizes e, em seus pontos recém costurados, se pode ler uma porção de coisas.
E entre "não faça isso" e "faça aquilo", a gente passa a caminhar por estradas cada vez mais estreitas, quase claustrofóbicas.
São tantas as lições que a vida nos dá, que, por vezes, vemos nosso mundo se restringir a minúsculos cubículos cercados por instransponíveis muralhas.
Assim a gente pára de caminhar, e passamos a viver em um eterno ciclo repetitivo.
E é quando essa situação se transforma numa chaga insuportável, a gente apalpa as próprias costas e descobre que somos dotados de asas.
Lá de cima, a gente pode acompanhar todos os caminhos que deixamos de percorrer, por medo de colecionar novas e mais doloridas cicatrizes.
Tomados pelo arrependimento, descobrimos que nossa estrada não é de duas mãos.