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Martha Medeiros

A pior vontade de viver
Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa.
Ela, a pior vontade de viver.
A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.Todos são tão compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo o que você faz, não é mesmo Desde que você faça o que está no script.
Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe se lá por quem e homologado no instante mesmo em que você nasceu.
Mas e quem não quiser seguir este script
Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais, morreu há 30 anos e recebeu uma justa homenagem na última terça feira, no Teatro Renascença, numa performance dirigida pelo incansável Luciano Alabarse e para o qual fui convidada, mas não pude participar.
Em função deste evento, estive pensando muito em Clarice e lembrei de como ela descreveu, certa vez, o sentimento de um personagem: "Seu coração enchera se com a pior vontade de viver".
Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa.
Ela, a pior vontade de viver.
A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.
No entanto, esta que foi chamada de a "pior" vontade pode ser também uma vontade genuína e inocente.
É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada.
É o desejo de açúcar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos.
A "pior" vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido.
A "pior" vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não render se às vontades fixas, apenas às vontades momentâneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se transformarem em vaidade como se sabe, há sempre aqueles que se envaidecem da própria persistência.
A "pior" vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada.
A "pior" vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada.
É quando você sabe que não deveria, mas vai.
Sabe que não será fácil, mas enfrenta.
Sabe que tomarão como agressão, mas arrisca.
Anote: apenas sentem se agredidos aqueles que te invejam.
A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública.
É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a "pior" vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo ou seja, tudo.
É com esta "pior" vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante.
É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir à tona esta que Clarice Lispector chamou de a pior vontade de viver, que, secretamente, é a melhor.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.