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Fabrício Carpinejar

Eu amo desorganizado, desenvergonhado.
Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso.
Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte.
A confusão é quase uma solidão adicional.
Uma solidão emprestada.
Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer.
Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio.
Quisera resistir mais.
Mas eu faço comigo a minha pior vingança.
Amar demais é o mesmo que não amar.
A sobra é o mesmo que a falta.
Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu.
Se não suporto o meu próprio amor, como exigir isso
Um dia li uma frase em Hegel: "nada de grande se faz sem paixão".
Mas nada de pequeno se faz sem amor.
A paixão testa, o amor prova.
A paixão acelera, o amor retarda.
A paixão repete o corpo, o amor cria o corpo.
A paixão incrimina, o amor perdoa.
A paixão convence, o amor dissuade.
A paixão é desejo da vaidade, o amor é a vaidade do desejo.
A paixão não pensa, o amor pesa.
A paixão vasculha o que o amor descobre.
A paixão não aceita testemunhas, o amor é testemunha.
A paixão facilita o encontro, o amor dificulta.
A paixão não se prepara, o amor demora para falar.
A paixão começa rápido, o amor não termina.
Não me dou paz sequer um segundo.
Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violento com a respiração e virar asma.
Até a minha insegurança é amor.
O pente nos meus cabelos é faca enquanto é garfo para os demais.
Sofro incompetência natural para medir a linguagem das laranjas, acredito desde pequeno que tudo o que cabe na mão me pertence.
Minha lareira não dura uma noite, esqueço da reposição das achas, do envolvimento da lenha no jornal, de assoprar o fundo.
Brigo com o bom senso.
Ou sinto calor demais ou sinto frio demais.
Uma ânsia de ser feliz maior do que a coordenação dos braços.
Um arroubo de abraçar e de se repartir, de se fazer conhecer, que assusta.
Parece agressivo, mas é exagerado.
Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas como uma tragédia.
Nunca o riso ou o choro acontece quando quero.
Cumprimento como se fosse uma despedida.
Desço a escada de casa ao trabalho com resignação, mas subo na volta pulando os degraus.
Esse sou eu: que vai pela esperança da volta.

A vingança encharca a literatura e a música, mas seus mistérios jamais serão esgotados.
Vingança é uma arte, o refinamento da carência.
Quem procura se vingar do ex ou da ex, na verdade, não cansou de brigar.
Não terminou de argumentar.
Vingança é discutir o relacionamento sozinho, é discutir o relacionamento à distância, é dedicar o dia inteiro, às vezes a vida inteira, a arquitetar uma forma de chamar a atenção do amante que negou o ouvido.
O luto é destinado aos que amam amar.
Vinga se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando.
É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor.
A união de dois terrorismos.
Vinga se aquele que acredita que deu mais do que recebeu e que se enxerga ludibriado.
Aquele que, durante a relação, cobrava em segredo tudo o que oferecia, listava presentes e gestos.
A vingança é o juízo final do avarento amoroso.
Indica também prepotência.
O vingador se enxerga superior ao vingado, mais experiente e sábio.
Acha que está ensinando seu antigo par.
Encarna a figura de professor repreendendo o erro do aluno.
Assim como não sofre em vão, somente se humilha para humilhar o outro.
Todo sofrimento é arrogante, debitado na conta do desafeto.
O vingador cobiça a última palavra pois não aceita que alguém pense o pior dele.
Planeja castigar as supostas distorções e intimidar as possíveis confissões de sua intimidade.
O vingador vive por hipóteses.
Não entendeu que a última palavra não existe, é uma desculpa para mandar.
A vingança é o mais paradoxal dos atos: um sentimento inteligente em mãos burras e desgovernadas; uma pressa que exige longa paciência e dissimulação.
Requer as mais contraditórias atitudes: sangue frio de alguém com sangue quente; calar se apesar da exagerada vontade de falar.
A vingança fracassa pela ânsia de fama do seu autor.
Quem busca se vingar pretende que o outro saiba que foi ele, que não tenha nenhuma dúvida.
Deseja dar o troco beijando a boca, olhando nos olhos.
Conclui que não adianta nada uma vingança sem remetente.
E peca pela ambição, erra ao se expor, porque a represália aguda e exitosa esconde o criminoso para a perfeição do crime; deve ser anônima, gerando a desconfiança, mas não entregando totalmente o seu mentor.
Não conheço vingança perfeita.
Não se vingar talvez seja a melhor vingança.
Fazer esperar uma resposta que nunca virá.